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Amigos Leitores - Intervenção urbana

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LSD eu lhe disse que provavelmente a droga liberava alguns bloqueios<br />

homossexuais. O contrário também procede: também libera alguns<br />

bloqueios heterossexuais, é a sua característica. Leary, ou algum outro,<br />

levou a coisa mais além ao dizer que eu tinha experimentado uma abertura<br />

heterossexual pela primeira vez na vida. Para começar, tenho um venerável<br />

histórico heterossexual ou bissexual.<br />

No contexto das discussões acerca do LSD, declarei no Congresso: “Gostaria<br />

de explicar um efeito que experimentei no Peru. Desde a minha infância,<br />

tenho me mantido fechado a relações com mulheres, possivelmente devido<br />

ao fato de que minha própria mãe, desde a minha mais tenra idade, viveu<br />

em um estado de intenso sofrimento, que me assustava sobremaneira, até<br />

morrer numa instituição para doentes mentais. Na cabana de um curandeiro<br />

no Peru, experimentei, em estado de transe, uma comovente lembrança da<br />

natureza da minha mãe e o muito que eu havia perdido ao me distanciar<br />

dela e, posteriormente, ao me afastar de garotas disponíveis. Porque, de<br />

fato, eu havia negado a maioria dos meus sentimentos em relação a ela,<br />

devido a um antigo temor, e esta penosa revelação, que surgiu enquanto a<br />

minha mente estava aberta graças à erva nativa (um pouco de yage),<br />

provocou algumas mudanças e, partir de então experimentei uma<br />

aproximação e confiança maiores em relação às mulheres. O universo<br />

humano tornou-se mais completo, a exemplo dos meus próprios<br />

sentimentos” *Testemunho diante do Sub-Comitê Especial de Justiça,<br />

Senado dos EUA, Resolução Senatorial 199: “O Uso do LSD e da Maconha<br />

nos Campi Universitários”, 14 de junho de 1966.]<br />

74<br />

YOUNG – O que de mais significativo você aprendeu em sua viagem à União<br />

Soviética?<br />

GINSBERG – Corre a informação em Moscou, entre os integrantes da União<br />

de Escritores, bem como entre os escritores que não pertencem à União,<br />

que se encontram marginalizados e passaram por manicômios ou pela<br />

Sibéria, que entre 1935 e 1953, sob o regime de Stalin, vinte milhões de<br />

russos foram presos e mandados para a Sibéria e que quinze milhões jamais<br />

regressaram. À margem da União dos Escritores, Yessenin-Volpin disse que a<br />

cifra era de catorze ou quinze milhões, um milhão para cima ou para baixo.<br />

Essa é a cifra comumente aceita em Moscou.<br />

A explicação para a atual rigidez da mentalidade russa, comparada, digamos,<br />

com a de Praga em 1965, e até mesmo com a de Cuba, está no fato de que<br />

“todos os burocratas que fizeram isso ocupam ainda os seus cargos e é<br />

preciso esperar até que eles morram”. Os jovens poetas acham que<br />

tornarão possível uma revolução cultural com os jovens cientistas,<br />

engenheiros, filósofos, médicos e atletas que escutam poesia e são mais<br />

liberais.<br />

Um poeta da União de Escritores me disse que, sob Stalin, quase todas as<br />

famílias de Moscou haviam perdido alguém que nunca voltou. Por exemplo,<br />

Yevtushenko tem parentes que foram levados para a Sibéria e que nunca<br />

regressaram. Ouvi dizer que todo mundo foi severamente castigado até que<br />

não restou mais ninguém sem castigo, até a própria polícia. Stalin criou uma<br />

nova infraburocracia policial que prendeu a antiga porque estava<br />

comprometido com a morte de muita gente. Houve uma guinada na linha

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