10.06.2013 Views

Amigos Leitores - Intervenção urbana

Amigos Leitores - Intervenção urbana

Amigos Leitores - Intervenção urbana

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

começa a ser uma trivialidade, mas uma trivialidade embaraçosa e muito<br />

mal acolhida, que o auto-sexo constitua a forma mais básica, universal e<br />

acessível de sexo que se conhece. “E como é bom tocar um instrumento”,<br />

cantava Caetano Veloso aos nossos ouvidos incrédulos e divertidos:<br />

podemos não saber explorar todas as possibilidades que a cornucópia do<br />

nosso corpo nos oferece, mas, a haver perito no assunto, esse não poderá<br />

deixar de ser, mais tarde ou mais cedo, cada um. E há que reconhecê-lo sem<br />

os habituais temores de infantilização, de regressão solipsista ou de perda<br />

da diferença sexual. Por mais sós que possamos estar, o sexo que nos põe<br />

em relação com nós mesmos, que é dimensão irredutível dela, abre-nos<br />

também à necessidade do outro, à falta que só o outro-sempre-por-vir pode<br />

preencher, parafraseando a sábia fórmula hegeliana, que nos ensina que o<br />

desejo é desejo do desejo do outro.<br />

A erótica moderna alimenta-se da tecnologização do sexo e da exploração<br />

incessante dos limites da tolerância social. A exigência de verdade, no<br />

ocidente judeo-cristão, primeiro, e científico-racional, depois, transferiu-se<br />

da confissão para a scientia sexualis até desembocar na assumpção<br />

individual da estilização da conduta própria. Uma verdade que não reside<br />

naquilo que (nunca) se é, mas na busca do que se deseja ser. E esse devir,<br />

que é todo o devir-humano, já o sabemos, é interminável. Tempos houve, e<br />

que há quem queira manter no espírito e na letra dos manuais escolares de<br />

(des)educação sexual, em que o corolário obrigatório do sexo tinha<br />

forçosamente de ser o amor. Os tempos têm demonstrado que um pode<br />

perfeitamente prescindir do outro. Convenhamos, porém: sem humor é que<br />

o sexo não passa.<br />

Fonte: Interact (www.interact.com.pt).<br />

175

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!