Amigos Leitores - Intervenção urbana
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o domínio do trabalho abstrato, as relações de gênero, momento essencial<br />
das relações entre os indivíduos aparecem aqui, também elas, como<br />
relações universais e naturais. Assim, a introdução das relações mercantis, a<br />
constituição do trabalho como trabalho abstrato - radicaliza, aprofunda e<br />
submete tal "naturalização" do gênero à naturalização mesma da<br />
propriedade e das relações mercantis: é dado como natural o fato de<br />
doravante os indivíduos não mais se relacionarem diretamente mas<br />
somente mediante as trocas mercantis. A desaparição integral do indivíduo<br />
aprofunda, assim, a desaparição primeira dada já na invenção do sistema de<br />
gêneros.<br />
11.<br />
O Gênero - como todo sistema classificatório - implicou, historicamente,<br />
uma classificação, uma normatização e uma hierarquização. É a partir da<br />
identidade de gênero que se instituem as representações próprias à<br />
"natureza" do Masculino e do Feminino: o macho caçador- provedor, a<br />
fêmea reprodutora; o masculino, ativo e o feminino, receptivo. Tais<br />
representações, são, evidentemente, inteiramente arbitrárias e<br />
contingentes. Naturalmente, tudo aquilo que não se encontra nesse<br />
esquema de representação cai, no interior do sistema, com todas as<br />
gradações e as variações possíveis, no registro do anormal, do desviado, do<br />
patológico. A partir da identidade, a diferença é situada como patololgia. É<br />
no sistema de gêneros que se situa, histórica e logicamente, a origem não só<br />
da misoginia mas também da homofobia. Evidentemente, como todo<br />
sistema, o de Gêneros possui um princípio claro, um único príncipio do qual<br />
o outro é negação: O Masculino, o pai, foi o primado a partir do qual o<br />
feminino apareceu como sendo da ordem do complemento. É nessa relação<br />
de complementaridade que se radica, a um só tempo, a subalternidade da<br />
mulher, a homofobia e mesmo a determinação das relações amorosas como<br />
uma "fusão", na qual desaparecem as individualidades.<br />
200<br />
12.<br />
Há, contudo, no sistema de gêneros tal como existiu historicamente, na<br />
multiplicidade de suas configurações, uma permanência central: a<br />
hierarquização dos papéis e o lugar de subalternidade do Feminino. A<br />
invenção do Masculino e do Feminino é sistema e, como tal, exclusão da<br />
diferença. Esse sistema teve, na história, um nome bem determinado:<br />
Patriarcado. Na tradição patriarcal a diferença é mulher. Se o princípio é o<br />
do masculino, o "outro" aqui, o negado, o subalterno, é o feminino. Toda a<br />
história humana, toda a cultura, no Ocidente e no Oriente, é permeada pela<br />
construção real de relações patriarcais de gênero como fundamento das<br />
representações - míticas, religiosas, científicas, filosóficas - da<br />
subalternidade do Feminino. É assim que um projeto de resgate da<br />
individualidade não pode prescindir, como núcleo de sua crítica da<br />
realidade, da crítica das relações patriarcais e da subalternidade do<br />
feminino. Foi, do ponto de vista de sua gênese histórica, o patriarcado que<br />
inaugurou o poder nas relações humanas. A dominação de gênero é, assim,<br />
historicamente, fundadora – anterior, portanto, à dominação étnica, à<br />
dominação de classe. Esse é o significado central da enunciação da tese 08<br />
do sistema de gêneros como princípio da eliminação da diferença.<br />
13.<br />
Trata-se, portanto, de considerar que a luta pela constituição da<br />
individualidade implica, necessária e fundamentalmente, a luta pela<br />
superação do sistema de gêneros, na medida em que constituir um mundo<br />
fundado na diferença, impõe a eliminação do sistema enquanto tal. Só nesta<br />
perspectiva, pensamos, a diversidade, a diferença, poderá se apresentar na<br />
sua radicalidade, a partir da superação das identidades que abra espaço à<br />
emergência da diferença. Se as relações sociais fundadas no trabalho