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Amigos Leitores - Intervenção urbana

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ENTREVISTA COM ALLEN GINSBERG (Parte 2)<br />

Allen Young<br />

Allen Ginsberg e Peter Orlovsky<br />

YOUNG – Você pode me contar sobre a sua relação com Peter Orlovsky?<br />

GINSBERG – Nos conhecemos em São Francisco, em 1954, quando ele vivia<br />

com um pintor chamado Robert LaVigne. Eu levava uma vida muito regrada,<br />

cuidando para que tudo corresse bem; trabalhava numa agência de<br />

publicidade, vestia terno e gravata, morava em Nob Hill, num apartamento<br />

amplo e agradável com Sheilla, uma cantora de jazz que também trabalhava<br />

com publicidade. As coisas entre nós não eram das mais satisfatórias.<br />

Tínhamos tomado um pouco de peyote, de modo que pertencíamos ao<br />

ambiente psicodélico.<br />

Nos metemos numa discussão e saí uma noite para dar uma volta e cheguei<br />

a uma área de São Francisco na qual nunca tinha reparado chamada Polk<br />

Gulch, hoje uma conhecida zona homossexual com uma enorme variedade<br />

de bares gays. Na época não passava de um setor boêmio, embora de um<br />

certo modo gay e artístico.<br />

Ficavam ali o Hotel Wentley, exatamente na esquina da Polk com a Sutter e<br />

uma cafeteria da cadeia Foster. Era tarde quando me sentei na Foster.<br />

Acabei me encontrando com Robert LaVigne e comecei uma longa conversa<br />

sobre arte e os pintores que eu conhecia – Larry Rivers, de Kooning e Kline.<br />

LaVigne era um pintor provinciano de São Francisco e eu, naquele<br />

momento, lhe trazia todo tipo de poesia fresca e notícias das artes de Nova<br />

York.<br />

61<br />

Ele me convidou a dar uma olhada no seu apartamento e nas suas pinturas,<br />

a umas quatro ruas dali, na Gough Street, um apartamento onde eu<br />

acabaria por viver algumas temporadas.<br />

Entrei no apartamento e ali estava aquele enorme quadro, belo, lírico, um<br />

jovem nu com as pernas separadas, umas cebolas aos seus pés e um<br />

pequeno bordado grego sobre o sofá. Ele tinha um pau de aspecto limpo e<br />

agradável, cabelo ruivo, rosto jovial e uma expressão charmosamente<br />

honesta que me olhava diretamente da tela. Senti imediatamente um<br />

sobressalto. Então, perguntei quem era. E Robert disse: “Ah, este é Peter;<br />

está em casa.” E foi aí que Peter entrou com a mesma expressão no rosto,<br />

porém um pouco mais tímida.<br />

Uma semana mais tarde, Robert avisou que ia deixar a cidade, ou que estava<br />

rompendo com Peter, ou Peter com ele. Perguntou-me se eu estava<br />

interessado em Peter e me disse que veria o que se podia fazer. Eu disse:<br />

“Ah, não brinque comigo!” Já me havia dado por vencido.<br />

Dez anos antes, tinha mantido um caso com Neal Cassady. De modo que eu<br />

já me sentia um cachorro velho e cansado com relação a fracassos<br />

amorosos; não tinha conseguido realizar nada e não tinha achado um<br />

companheiro permanente para o resto da vida. E, em 1955, eu já estava<br />

com 29 anos. Não estava cheio de idéias românticas. Nessa noite nos<br />

encontrávamos no Bar Vesuvio. Robert teve uma longa conversa com Peter<br />

e perguntou-lhe se estava interessado: comportou-se como uma espécie de<br />

shadchan [termo de origem hebraica que designa o tradicional<br />

casamenteiro das comunidades judaicas].<br />

Certa noite voltei àquele apartamento e fui direto ao quarto de Peter.<br />

Dormimos juntos num enorme colchão sobre o chão. Tirei a roupa e enfieime<br />

na cama. Eu não tinha dormido ainda com muita gente. Nunca de uma

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