Amigos Leitores - Intervenção urbana
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quando James Rushbridger foi encontrado morto com uma corda no<br />
pescoço e uma laranja em sua boca, ele estava vestindo uma capa de<br />
chuva?”<br />
Ackerman prevê que depois da laranja, a uva<br />
será a nova fruta a ter esse tratamento<br />
renovado de rotulação sexual. “Há todo um<br />
grupo de jornalistas de estilo baseados em<br />
Shoreditch que se voltaram para essa coisa<br />
bizarra das mobílias de showrooms de sofá”,<br />
Ackerman revelou. “Acho que tem algo a ver<br />
com boa parte desse mobiliário ser batizado com o nome de figuras famosas<br />
da cultura. No começo era tudo uma coisa muito óbvia, principalmente<br />
sado-masoquismo em cima de sofás Braque, Duchamp, Dali e Man Ray.<br />
Então um desses jornalistas de estilo fez uma entrevista comigo que nunca<br />
apareceu na “Shoreditch Twat” (2), mas ele levou a sério a minha sugestão<br />
de ele usar temas mais clássicos. Era a chaise longue Landseer que atraía.<br />
Pensava na famosa pintura de Sir Edwin (Landseer), The Stag at Bay (O<br />
Veado na Baía), e chamei um casal de junkies para me ajudar a recriá-la<br />
sexualmente. Pus uma garota deitada de costas no sofá Landseer comendo<br />
uvas enquanto cuspia ruidosamente as sementes numa velha escarradeira.<br />
Logo que caí de língua sobre a beleza reclinada e enchia minha boca de<br />
boceta, a segunda garota me sodomizou com um enorme chicote numa<br />
forma de invocar simbolicamente o veado ferido. Meus colegas jornalistas<br />
acharam isto uma grande diversão, e por essa razão a uva está para ser<br />
restabelecida como a fruta mais sexualizada”.<br />
De acordo com a filósofa feminista Gillian Rose, há uma divisão de gêneros<br />
maior ainda no fetichismo por frutas do que em qualquer outra forma de<br />
perversão por comidas. “Com muitas comidas que são apenas derramadas e<br />
lambidas no corpo como manjar, ou creme batido ou iogurte, não há<br />
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diferença real na atração de homens ou mulheres”, contou-me Rose. “Mas<br />
quando você se volta para as frutas, que como fetiche de comida é mais<br />
popular entre auto-sexuais, então você descobre que os homens preferem<br />
coisas mais saborosas como laranjas, enquanto as mulheres gostam de<br />
bananas verdes e pepinos, que elas podem inserir dentro delas. Logo os<br />
lanches Fresh Citrus serão definitivamente mais vendidos para homens, não<br />
só por causa da escolha da fruta mas também porque mulheres tendem a<br />
preferir lenços secos para se limparem depois de atos auto-sexuais”.<br />
Rose está provavelmente certa mas não consigo deixar de pensar que há<br />
muitos pervertidos por aí que vão achar que é uma vergonha que todos<br />
esses fluidos corporais estejam sendo enxugados e jogados fora.<br />
Certamente haverá um empresário capitalista ambicioso com a visão de<br />
mercantilizar toda esse sêmem derramado como material de beleza. De<br />
acordo com o folclore, aplicar porra fresca em sua face melhora<br />
sensivelmente a tonalidade da pele. Uma firma cosmética poderia vender<br />
esperma como creme de beleza mesmo que os gays engolissem pacotes<br />
inteiros deles e que mulheres sem filhos usassem-no para inseminação<br />
artificial.<br />
Falando mais seriamente, diz-se que a prostituição é a mais velha das<br />
profissões, logo a mercantilização do sexo não é nada novo. Os lanches<br />
Fresh Citrus representam não tanto nossa separação da natureza mas um<br />
exemplo gritante de nossa alienação de nossa própria natureza humana.<br />
Vivemos numa sociedade na qual o sexo está divorciado do calor das<br />
verdadeiras relações humanas. Como Karl Marx tão habilmente demonstrou<br />
há mais de um século, o fetichismo da mercadoria está inextricavelmente<br />
ligado ao fetichismo sexual. Uma laranja e uma “toalha de mão”<br />
embrulhados em plástico provêem um perfeito símbolo de tudo que está<br />
errado com a sociedade capitalista.