Amigos Leitores - Intervenção urbana
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"O que ela quer, quem pergunta isso na exasperação e aridez de cada parte<br />
de seu corpo, é a mulher-orquestra? Será que ela quer se tornar uma<br />
amante e tudo o mais? Vamos lá! Ela quer que você morra com ela, ela<br />
deseja que os limites de exclusividade retrocedam, sejam arrastados através<br />
de todos os tecidos, da imensa tactilidade, do tato de qualquer coisa que se<br />
feche em si mesma, sem que se torne uma caixa, e do que quer que, sem<br />
parara, nos leve além de nós mesmos sem se impor como conquista."<br />
(Lyotard, 1993: 66)<br />
Tatilidade imensa, contato, possibilidade de comunicação, um fechamento<br />
sem limites: um circuito, uma conexão. 'O que interessa aos praticantes de<br />
sadomasoquismo é que o relacionamento seja ao mesmo tempo regulado e<br />
aberto', escreve Foucault: uma mistura de regra e abertura'. Uma incessante<br />
ampliação: a procura do corpo é sua própria saída. Importa tornar-se 'aquilo<br />
que não é único'; tornar-se uma mulher que 'tem órgãos sexuais por toda a<br />
parte' (Irigaray, 1985: 1i). É isso que significa sair da carne? Não é apenas<br />
deixar o corpo, mas ir além do orgasmo, a fim de alcançar a 'exultação de<br />
um tipo de autonomia das nossas menores partes, das menores<br />
possibilidades de uma parte do nosso corpo'.<br />
'Use-me', escreve Lyotard, é 'uma afirmação de vertiginosa simplicidade,<br />
não é mística, mas materialista. Deixe-me ser sua superfície e seus tecidos,<br />
você pode ser os meus orifícios, minhas mãos e minhas membranas, nós<br />
podemos nos perder, deixe de lado o poder e a esquálida justificativa da<br />
dialética da redenção: nós morremos. Não diga, deixe-me morrer em suas<br />
mãos, como Masoch disse' (Lyotard, 1993: 65).<br />
92<br />
'O castigo sado-masoquismo da prostituta faz com que você sofra 'algo' em<br />
sendo seu cliente. Trata-se de algo que não tem nome. Está além de amor e<br />
do ódio, além dos sentimentos, é um contentamento selvagem, misturado à<br />
vergonha, o jogo de submeter (-se) a algo e suportar o golpe de pertencer a<br />
alguém, sentindo a si mesmo libertado da liberdade. Isto deve existir em<br />
todas as mulheres, em todos os casais, em um menor grau ou inconsciente.<br />
Isto é uma droga, é como ter a impressão de que alguém está vivendo a<br />
mesma vida muitas vezes, demasiadamente de uma só vez, com uma<br />
intensidade incrível. Os alcoviteiros, aplicando esses castigos, experimentam<br />
este "algo". Estou certo disto.' (Lyotard, 1993: 63)<br />
Trata-se da 'coisa sem nome' de Foucault, algo inútil, fora de todos os<br />
programas de desejo. É o corpo totalmente maleado pelo prazer: 'algo que<br />
se abre, que aperta, que lateja, que pulsa, que espanta' (Miller, 1993: 274).<br />
Quando ocorre, escreve Freud, é 'como se o vigia de nossa vida mental fosse<br />
tirado de ação por uma droga' (Freud, 1984: 143).<br />
'Eu despi o desejo e a pessoa que você era como nos despimos de colares e<br />
correntes' (Lingis, 1994: 61). O que permanece é máquina, o inumano, algo<br />
além de emoções, além da sujeição: 'a ilusão de não ter chance, o pavor de<br />
ser pego' (Califa, 1993b: 108).<br />
Pat Califa: 'Ele quis... tudo. A consumação, ser usado, ser completamente<br />
usado. Ser absorvido pelos seus olhos, sua boca, seu sexo, tornar-se parte<br />
de sua substância' (Califa 1993b: 108)<br />
Foucault descreve as pessoas envolvidas com sadomasoquismo como<br />
'inventando novas possibilidades de prazer com partes estranhas do seu