Amigos Leitores - Intervenção urbana
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SKINHEADS: HOMÓFOBOS OU AUTÓFOBOS?<br />
Glauco Mattoso<br />
Já virou escudo da militância gay alegar que<br />
todo machão que odeia bicha não passa dum<br />
entendido enrustido, argumento que,<br />
embora psicanaliticamente sustentável, é<br />
ponto nada pacífico quando se trata da<br />
violência antigay, tão antiga quanto a<br />
intolerância nazista e tão nova quanto as<br />
juventudes neonazistas, mais visivelmente<br />
representadas pelos skinheads. Mesmo que<br />
estes, em sua maioria, se preocupem em<br />
dissociar sua imagem do racismo,<br />
respondendo à infiltração de ultradireita<br />
com frentes como o SHARP (SkinHeads<br />
Against Racial Prejudice), o machismo e a<br />
violência nunca deixaram de ser cultuados<br />
entre os carecas botinudos.<br />
[2] De tanto alardear brutalidade e masculinidade, os skins acabam<br />
reforçando o argumento do enrustimento, na medida em que fetichizam<br />
demais a auto-imagem e procuram nos companheiros seu espelho narcísico,<br />
inconfessavelmente erótico. Os antecedentes dessa cripto-homofilia no<br />
nazismo são bem conhecidos dos historiadores, embora nunca francamente<br />
admitidos. Sabe-se que a própria idéia do triângulo rosa para rotular<br />
prisioneiros gays nos campos de concentração (diferenciando-os de outras<br />
"categorias" como judeus, ciganos, etc.) partiu do braço direito de Himmler,<br />
um lindo e loiro oficial chamado Heydrich. É curioso notar que nenhum dos<br />
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figurões do Reich alemão tinha o perfil perfeito do ariano idealizado pelos<br />
teóricos da "raça superior": Goering era gordão, Goebbels franzino e coxo,<br />
Himmler e o próprio Hitler longe do tipo loiro e nórdico. No entanto,<br />
Himmler fazia questão de autorizar pessoalmente o casamento de cada um<br />
de seus comandados SS, a fim de evitar uniões racialmente impuras, e só<br />
autorizava (se a noiva fosse loirinha) depois de examinar a foto do jovem<br />
pelado, para conferir as características "arianas". (1) Imaginem só essas<br />
sessões de fotos e esses fotógrafos, com que patriotismo trabalhavam!<br />
[3] Pois não é que o tal Heydrich era o único desse alto escalão que tinha<br />
exatamente a cara (e o corpo) do garanhão teutônico? E não é que os<br />
biógrafos de Heydrich descobriram que ele tinha transado na marra com um<br />
superior no começo da carreira militar? (2) Isso explica por que guardava<br />
tanto rancor de homossexuais, a ponto de forjar dossiês onde acusava<br />
velhos oficiais da Wehrmacht de relações desse tipo, a fim de afastá-los do<br />
caminho de Hitler no controle do poder dentro das forças armadas. Um<br />
desses oficiais foi o general Werner von Fritsch, banido vergonhosamente<br />
depois que a Gestapo, instruída pelos métodos de Heydrich, obrigou um<br />
michê a confessar que tivera um caso com aquele que ainda conservava<br />
influência interna contra Hitler. (3)<br />
[4] Os próprios aliados do fuehrer foram vítimas do maquiavelismo de<br />
Heydrich, que poderia ser chamado de "a bicha maldita do nazismo". Isso<br />
porque a bicha "bendita", isto é, que se assumia e ostentava seu<br />
comportamento, era Ernst Roehm, um sargentão feioso e corpulento, cuja<br />
fama de disciplinador era tão grande quanto a de recrutar efebos para sua<br />
cama. Os ciúmes de Heydrich (e de seu superior Himmler) contra Roehm<br />
eram óbvios: despeitados, temiam que Roehm ficasse mais poderoso que o<br />
próprio Hitler e lhe tomasse o lugar, ou pelo menos exigisse o posto de<br />
comandante supremo do exército. De fato, Roehm organizara e comandava<br />
as SA, a tropa mais numerosa do partido (enquanto as SS eram minoritárias,