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Amigos Leitores - Intervenção urbana

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lugar de subalternidade estabelecido pelo sistema de gêneros, é no<br />

confronto com tal subalternidade, é na reivindicação do lugar do outro<br />

negado, da diferença, que é possível encontrar a ponte capaz de nos fazer<br />

dar o salto no abismo para além da identidade. Se é verdade que no interior<br />

do sistema - e isso é válido, pela mesma razão, para as outras articulações<br />

sistemáticas como a de etnia e classe - constitui-se um princípio e uma<br />

subalternidade, a saída do sistema, a negação deve poder se localizar<br />

preferencialmente - embora no interior do sistema todos sejamos<br />

igualmente negados como individualidade - justo no âmbito do negado, na<br />

diferença. Isso significa que, embora sendo negador de toda a<br />

individualidade, o sistema como tal pesa sobremaneira sobre os ombros<br />

daquel@s que nos encontramos no lugar de subalternidade. E significa<br />

também que a luta pela construção de um mundo humano no qual a<br />

individualidade possa, finalmente, se apresentar na sua radicalidade, exige,<br />

necessariamente, que a situação de opressão e violência à qual temos sido,<br />

por gerações e gerações submetidas, seja por nós mesmas<br />

intransigentemente denunciada, negada cotidianamente e radicalmente<br />

superada.<br />

16.<br />

Assim, se para que possamos superar as relações mercantis, mediadas pelo<br />

dinheiro, é necessário que construamos experiências de organização<br />

autônomas, nas quais as relações mediadas sejam substituídas por relações<br />

diretas onde sejam superados os princípios da representação, ou seja, se é<br />

necessário basear as organizações anti-capitalistas numa experiência<br />

cotidiana de ruptura com a passividade e o mando/obediência<br />

característicos da relações mercantis e do Estado que as representa, como<br />

forma de construir desde já os contornos de uma sociabilidade na qual a<br />

diferença é fundamento, do mesmo modo, e com igual radicalidade, é<br />

preciso superar as determinações históricas do sistema de gêneros - a<br />

202<br />

misoginia e a homofobia - a partir da própria experiência de luta contra as<br />

suas formas atuais. Assim, se a experiência da construção de organizações<br />

autônomas, ou seja, anti-hierárquicas e horizontais é condição da superação<br />

das relações mercantis porque põe, desde a experiência cotidiana a ruptura<br />

prática com a mediação e a representação, é evidente que também no seio<br />

das lutas que contestam a opressão de gênero - e que parte, portanto,<br />

forçosamente da nossa situação presente, ou seja, do gênero enquanto uma<br />

realidade plenamente vigente do ponto de vista social - é necessário que<br />

superemos os limites do sistema de gênero na nossa própria prática<br />

cotidiana. Ou seja, trata-se de encontrar meios concretos de ao mesmo<br />

tempo em que partimos da realidade da opressão Feminina e da homofobia,<br />

destruirmos as representações históricas ligadas à idéia de sistema<br />

enquanto tal. É necessário, pois, que a individualidade e as relações diretas<br />

se manifestem na forma do combate cotidiano e intransigente a todas as<br />

formas de misoginia e homofobia sem que com isso, contudo, caiamos<br />

numa naturalização do feminino, do masculino ou do homoerotismo. Tratase,<br />

assim de que procuremos experimentar, desde já, a ruptura com o<br />

sistema de gêneros buscando incorporar a diferença e a individualidade<br />

como o fundamento, embora negado na nossa condição atual, daquilo que<br />

somos e do mundo que queremos construir como a nossa morada.<br />

Se a negação do sistema - como foi dito acima, encontra o seu lugar<br />

privilegiado, quanto ao sistema de gêneros, nas mulheres e homossexuais,<br />

pela condição de subalternidade, que seja o combate à subalternidade<br />

submetido ao combate mesmo à idéia do gênero enquanto tal, ou seja, que<br />

o combate à subalternidade do feminino e à exclusão possa ir à raiz do<br />

problema compreendendo que a crítica à situação de opressão feminina ou<br />

contra a homofobia só se realiza, na radicalidade, como crítica ao sistema de<br />

gêneros em sua totalidade, ou seja, como crítica ao sistema enquanto tal.<br />

Assim, é absolutamente necessário que busquemos, no interior das<br />

experiências autônomas de combate ao mercado, realizar um trabalho

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