Amigos Leitores - Intervenção urbana
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É no contexto desta fronteira não demarcada entre corpo e tecnologia que<br />
nós voltamos agora à figura do autômato e notamos, como um pesquisador<br />
mostrou recentemente, que "o artesão do século passado, que moldava o<br />
elaborado movimento dos ponteiros do relógio alinhando dolorosamente<br />
seus eixos e engrenagens, é muito semelhante ao programador dos<br />
modernos computadores gráficos, que interagem com os algoritmos que,<br />
neles, animam o movimento humano ou definem as deformações plásticas<br />
que uma expressão facial deverá sofrer" (Lasko-Harvill, 1992: 226).<br />
Se o ciborg de Clynes/Kline ofereceu uma solução participativa ao problema<br />
de sobrevivência em ambientes hostis, então assim o fez por meio de uma<br />
fusão radical da interface de homem/máquina, tal como proposto pela<br />
primeira vez no contexto dos autômatos miméticos clássicos. O<br />
astronauta/ciborg e modelos de ficção científica posteriores foram e são<br />
concebidos como andróides de uma revolução pós-industrial que encarna o<br />
poderio de certos centros de comandos principais que se apóiam em<br />
sistemas de controle e monitoramento sofisticados. Tratam-se de ciborgs<br />
baseados em equipamentos pesados, que exibem formas de andróides, o<br />
poder do robô e da inteligência cibernética, e que são projetados para<br />
funcionar em ambientes extremamente hostis. Em um certo ponto de The<br />
Human Use of Human Beings, por exemplo, Wiener havia sugerido que "nós<br />
modificamos tão radicalmente nosso ambiente que agora nós temos que<br />
nos modificar para poder existir neste novo ambiente"(1954:46 novo). Em<br />
retrospecto, é fácil ver que o ciborg de Clynes/Kline foi uma solução baseada<br />
em equipamentos pesados para este tipo de problema. Enquanto o primeiro<br />
ciborg foi projetado inicialmente para viagem espacial, a modificação e<br />
adaptação podem tomar diferentes formas quanto as necessárias para a<br />
conquista e colonização dos ambientes não-humanos ou anti-humanos e<br />
não é à toa que o ciborg pós-gênero e de oposição harawayiano sugira que<br />
tais ambientes se estendam ao conflituoso e hostil mundo das idéias.<br />
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Talvez a figura da conquista forneça o quadro de referência mais apropriado<br />
pelo qual podemos ver as transformações computacionais mais recentes<br />
que ocorrem nos ciborgs na sua nova forma, na medida em que essas são<br />
produto de um problema especial em adaptação humana: isto é, como<br />
existir em um ambiente que consiste em pura informação. Como Wiener foi<br />
o primeiro a mostrar, a resposta para tanto é fornecida pela cibernética: a<br />
pessoa transforma o organismo humano em um padrão de pura informação<br />
digital. Como resultado, a adaptação está perfeita e completa desde que<br />
sejam concebidos organismos e ambientes em condições semelhantes.<br />
Essa visão cibernética extremada, uma solução final e radical para o<br />
problema das mutações ambientais e da obtenção de adaptação, fornece<br />
um tipo de "resposta terminal" à pergunta sobre a direção da "evolução" do<br />
organismo humano em finais do século XX. Na medida em que "a interface<br />
entre o usuário e o computador for a última fronteira no desenho de<br />
computadores" (Foley, 1987:127), então esta interface também pode ser a<br />
última fronteira no desenho de seres humanos e, como tal, a chave para a<br />
diversidade de padrões cibernéticos que podem colonizar e podem povoar a<br />
realidade virtual em nome não apenas de uma das metáforas enraizadas na<br />
modernidade ocidental - o mecanismo de feedback, mas também em nome<br />
de uma de suas palavras chaves: cibernéticas.<br />
Tradução de Bianca Persici, Marina Ferreira e Francisco Antunes<br />
Coordenação e revisão do Organizador.<br />
David Tomas é professor do Departamento de Artes Visuais da Universidade<br />
de Ottawa (Canadá). "Feedback e cibernética: reimaginando o corpo na era<br />
dos ciborgs" foi publicado em Featherstone, M. & Brown, M. (orgs.):<br />
Cyberspace, cyberbodies, cyberpunk (Londres: Sage, 1995).