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Amigos Leitores - Intervenção urbana

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corpo... é um tipo de criação, uma aventura criativa, a qual tem como uma<br />

de suas partes principais o que eu chamo de dessexualização do prazer'<br />

(Miller, 1993: 263). Sadomasoquismo é uma questão de multiplicação e<br />

apropriação de corpos', ele escreve: trata-se de 'uma criação de anarquia<br />

dentro do corpo, em que suas hierarquias, suas localizações e designações,<br />

sua "organicidade", se quisermos, estão em processo de desintegração'<br />

(ibid.: 274). Já as 'práticas de penetração com o braço são práticas que<br />

alguém pode chamar de desvirilizantes, ou, dessexualizantes. São, na<br />

verdade, extraordinárias falsificações do prazer' (ibid.: 269), dores levadas<br />

ao ponto de se tornarem, também, um êxtase absoluto. Agulhas através da<br />

carne. Cera de velas ainda quente escorrendo sobre grampos de alicates. A<br />

mais extraordinária pressão nos músculos ou tecidos conjuntivos. A<br />

fronteira entre a dor e o prazer foi atravessada' (ibid.: 266).<br />

'Mesmo sofrendo, por um lado, e tendo prazer, por outro: esta dicotomia<br />

pertence à ordem do corpo orgânico, da suposta instância unificada'<br />

(Lyotard, 1993: 23). Agora há, pois, um plano, um platô lânguido. Os altos e<br />

baixos convergem para um mar calmo, um oceano silencioso. Encontram<br />

seus limites e se tornam insípidos: chegam ao ponto de fusão.<br />

'Não sabemos o que um corpo pode fazer', mas isso já é uma outra razão do<br />

'porquê nós temos que nos libertar da sexualidade' (Macey, 1994: 373), de<br />

deixar o corpo aos seus próprios artifícios, de despi-lo de seus controles<br />

formais, invalidar seus mecanismos de auto-proteção e segurança (que<br />

ligam a intensidade ao prazer à reprodução).<br />

Que há outras maneiras, outros procedimentos, além do masoquismo,<br />

certamente outros melhores, é algo paralelo a essa questão; é suficiente<br />

93<br />

dizer que, para alguém, este seja um procedimento seja agradável (Deleuze<br />

e Guattari, 1988: 55). Custe o que custar o importante é acessar o plano. As<br />

necessidades não admitem proibição. A necessidade tem sua álgebra, a<br />

velocidade, seu diagrama.<br />

Foucault não tinha dúvidas que certas drogas rivalizavam com os 'prazeres<br />

intensos' da experimentação sexual. Das drogas dos anos 90, o ECSTASY e o<br />

CRACK, foram ambas descritas como 'melhores que o sexo', enquanto o<br />

SPEED e PROZAC tendem a um efeito anorgásmico. Toda 'engenharia do<br />

corpo' tem algum componente químico. Felix Guattari aponta que 'certas<br />

síndromes anoréxicas, sado-masoquistas, etc funcionam como um autovício',<br />

pois 'o próprio corpo secreta suas endorfinas, as quais, você sabe, são<br />

50 vezes mais ativas que as morfinas' (Guattari, 1989; 20). Se o orgasmo<br />

indica prazer, 'as yellow pills ou a cocaína permitem que você exploda e<br />

difunda isso por todo o seu corpo; o corpo se torna um lugar de prazer total'<br />

(Macey, 1994; 373). Neste plano, o corpo se esquece de si mesmo, se retira<br />

para ser uma só coisa.<br />

Estar fora de ordem e sob um controle que, 'em vez de agir permanece em<br />

guarda, um controle que bloqueia o contato com o lugar-comum e permite<br />

que esses contatos de tipo mais súbitos e raros, expõe o fio nos põe em<br />

incandescência todavia nunca nos separa.' (Artaud, 1965: 33).<br />

Num caminho medido em escala fractal, 'pode-se estabelecer um tipo de<br />

ordem ou de progressão aparente progressão favorável aos segmentos em<br />

que descobrimos nosso vir-a-ser'. Trata-se de caminho em que 'começamos<br />

e descobrimos nosso devir- mulher' (Deleuze e Guattari, 1988: 277), o qual<br />

já é uma questão do devir-criança, -animal, -vegetal, ou -mineral; do vir-a-

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