Amigos Leitores - Intervenção urbana
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homossexualismo, numa relação mais igualitária e democrática, com<br />
homens e mulheres. Mas acredito ser possível afirmar: deixe que a flor mais<br />
pura manifeste o seu verdadeiro propósito, que é o de orientar-se na<br />
direção da luz; e deixe que a flor mais retorcida manifeste, em sua<br />
inclinação, seu propósito de orientar-se na direção da luz. A flor retorcida<br />
tem de rodear as pedras para buscar a luz. Mas o propósito é chegar à luz do<br />
amor, embora a flor reta cresça diretamente rumo ao amor e à luz. Das duas<br />
uma: ou você tem o amor-humano-biológico-condicionado, ou um<br />
movimento de liberação gay que deseja liberar e tornar públicas estas<br />
emoções. Uma das coisas que o movimento poderia promover seria<br />
derrubar a barreira de medo que as bichas levantam em relação às<br />
mulheres. Botar abaixo a barreira entre homem e homem, o que<br />
provavelmente levaria ao mesmo resultado.<br />
Outro ponto que eu gostaria de mencionar é a possível e tradicional objeção<br />
dos efeminados acerca das relações “sexistas” entre homens mais velhos<br />
com homens mais jovens. Vi em Berkeley manifestos sobre o assunto.<br />
Mencionei a questão a Gavin Arthur, falecido este ano em São Francisco. Era<br />
um cavalheiro, de maneiras delicadas; era astrólogo, um mestre, um guru e<br />
neto do presidente Chester Arthur. Neal Cassady trepou com ele algumas<br />
vezes, quando buscava refúgio em São Francisco depois de suas aventuras<br />
com Kesey pelas estradas de ferro. E Gavin Arthur já havia trepado com<br />
Edward Carpenter, e Edward Carpenter com Walt Whitman. De certo modo,<br />
em linha de transmissão, é um fato interessante a ser registrado na<br />
mitologia. O herói heterossexual de Kerouac também trepou com alguém<br />
que, por sua vez, trepou com Whitman e recebeu a Tradição Sussurrada<br />
(com “T” e “S” maiúsculos) daquele amor.<br />
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YOUNG – O herói heterossexual de Kerouac? A quem você se refere?<br />
GINSBERG – Neal Cassady, Dean Moriarty, o que trepou com Gavin Arthur<br />
que, por sua vez, trepou com Edward Carpenter que, por sua vez, trepou<br />
com Whitman. E eu trepei com Dean, de modo que....falando nessa linha de<br />
transmissão... O que me foi sussurrado nessa linha de transmissão por Gavin<br />
Arthur, sobre a relação encantadora entre homens mais velhos com jovens,<br />
a exemplo do que ocorria na Antigüidade, é uma coisa que você entende<br />
melhor à medida em que envelhece, uma coisa da qual você não precisa se<br />
envergonhar, e nem contra a qual precisa ficar na defensiva, e sim uma<br />
coisa a ser estimulada – uma relação saudável e não uma dependência<br />
neurótica e doentia.<br />
O principal é a comunicação. Os mais velhos têm sabedoria, experiência,<br />
história, memória, informação, referências e também poder, dinheiro e<br />
tecnologia. Os mais jovens têm inteligência, entusiasmo, sexualidade,<br />
energia, vitalidade, mente aberta, atividade física – todas estas<br />
características, além dos conhecimentos doces e puros da juventude – e<br />
ambos se beneficiam do intercâmbio. A coisa converte-se em algo mais do<br />
que uma relação sexual; passa a ser um intercâmbio de talentos, sucessos e<br />
de dons naturais. Os mais velhos ganham em vigor, frescor, vitalidade,<br />
energia, esperança e alegria por meio dos mais jovens; e os mais jovens<br />
ganham em experiência, conselhos, ajuda, consolo, sabedoria,<br />
conhecimentos e ensinamentos através da sua relação com os mais velhos.<br />
A exemplo do que se verifica em outras relações, a combinação de antigo e<br />
novo é funcionalmente proveitosa. Isso difere muito de ser “sexista”, no<br />
sentido de que o interesse direcionado ao jovem não é totalmente sexual;