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Amigos Leitores - Intervenção urbana

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YOUNG – Uma das citações que circulam sobre a Liberação Gay, e que é<br />

atribuída a você, é a tua reação diante da rebelião no bar Stonewall: “As<br />

bichas perderam o ar de malditas.” Quais foram as circunstâncias?<br />

GINSBERG – Foi uma entrevista no “Village Voice”. Eu não estava lá na hora<br />

da rebelião. Ouvi falar e fui na noite seguinte ao Stonewall mostrar o que eu<br />

sabia. O lugar estava aberto e havia uma multidão. Disse a mim mesmo: “O<br />

melhor que posso fazer é entrar e o pior que pode acontecer é que eu tenha<br />

de acalmar os ânimos. Não serão atacados enquanto eu estiver lá.<br />

Começarei um grande Om.”<br />

Não participei da onda violenta (de Stonewall). A parte suja pareceu-me mal<br />

intencionada, desnecessária e histérica. Mas, por outro lado, havia essa<br />

imagem de todo mundo demonstrar que podia baixar o pau na polícia coisa<br />

que, ao que parece, se conseguiu. Como imagem, era tão cômico que era<br />

difícil desaprová-la – apesar de implicar um pouco de violência.<br />

YOUNG – Naquele momento você previu que aquilo conduziria ao que seria<br />

chamado de Liberação Gay e que teria uma organização, publicações, etc.?<br />

GINSBERG – De certa forma, isso parecia sempre ao ponto de acontecer. Já<br />

existia em forma rudimentar na “Mattachine Society” e na “One”. Eram<br />

mais calmos, mas fizeram algumas coisas interessantes para a sua época.<br />

Publiquei, em 1959, o poema dedicado a Neal Cassady “The Green<br />

Automobile” (“O Automóvel Verde”) na “Mattachine Review”. Isso provocou<br />

a indignação do psiquiatra Karl Menninger, de Topeka, Kansas, porque<br />

tratava-se de um honesto poema de amor que aprovava as relações<br />

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amorosas gays. Ele escreveu uma estranha carta para a “Mattachine<br />

Society”, denunciando o poema e dizendo que enquanto eles tentavam<br />

curar todo mundo era publicado aquele horrível poema numa apologia a<br />

tais sentimentos perversos!<br />

Assisti a algumas reuniões da “Mattachine Society” em São Francisco e<br />

também fiz uma breve leitura de poemas mas nunca me envolvi<br />

politicamente com eles – apenas literariamente. São Francisco sempre<br />

esteve mais avançada do que Nova York na aceitação da homossexualidade.<br />

É uma cidade meio parisiense. Havia em North Beach um bar famoso e<br />

histórico (o Black Cat), próximo a outro chamado Monkey Block, talvez o<br />

melhor bar gay do Estados Unidos. Era realmente aberto, boêmio, uma coisa<br />

São Francisco, vienense, e todos iam lá, heterossexuais e homossexuais. Era<br />

iluminado e tinha um piano. Era enorme. O ponto de encontro de bichas<br />

loucas, heterossexuais e estivadores. Todos os poetas o freqüentavam.<br />

YOUNG – Martha Shelley escreveu uma excelente abertura para o artigo<br />

“Gay is Good”, um dos primeiros a serem publicados sobre a Liberação Gay:<br />

“Olhem adiante, aqui está a Frente de Liberação Gay, nascendo como uma<br />

verruga sobre o brando rosto da América, causando espasmos de indigestão<br />

nos equilibrados e delicados intestinos do Movimento.” No final do artigo<br />

diz: “Vocês nunca vão se livrar de nós, porque nos reproduzimos fora dos<br />

vossos corpos.”<br />

GINSBERG – Aí está o problema. O ponto é que ninguém é normal. É como<br />

chamar alguém de “porco”. Todos têm sonhos com algum conteúdo<br />

homoerótico, de modo que o problema é fazer com que os “normais”

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