Amigos Leitores - Intervenção urbana
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QUEM TEM MEDO DE FOUCAULT? - Feminismo, Corpo e Sexualidade<br />
Dra. Tânia Navarro Swain<br />
Universidade de Brasília - Departamento de História<br />
Corpo e sexo parecem, à primeira vista, indissociáveis. Entretanto, se nos<br />
atemos a um dos pressupostos aventados por Foucault para a análise do<br />
real - a inversão das evidências (1) - desfaz-se este conjunto em múltiplas<br />
questões: que corpo é este, atravessado pelo sexo? Que sexo é este a cujas<br />
definições se atrelam características de meu ser? Corpo, superfície pré-<br />
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discursiva, sobre a qual se instalam práticas, coerções e disciplinas? Sexo,<br />
detalhe anatômico ou delimitação incontornável do indivíduo no mundo?<br />
As práticas discursivas da atualidade que “(…) se caracterizam pelo recorte<br />
de um campo de objetos, pela definição de uma perspectiva legítima para o<br />
sujeito do conhecimento”(2), criaram as condições de possibilidade para o<br />
surgimento de tais questões e as teorias feministas, em sua pluralidade, vem<br />
analisando os processos e procedimentos de transformação do corpo da<br />
mulher num sexo, amálgama que resulta em práticas de subordinação e<br />
assujeitamento.<br />
Quem diz corpo e sexo pensa também em mulheres e homens, divisão<br />
naturalizada do mundo em um esquema binário de implicações<br />
hierarquizantes e assimétricas. (3)<br />
Muitas vezes foi repetida a idéia, de forma implícita ou explícita nos<br />
discursos fundadores de autoridade da teologia, filosofia e outros, que o<br />
homem tem um sexo, a mulher é um sexo. Nesta afirmação, o corpo é<br />
obscurecido pela identidade de gênero, numa dupla acepção em que o<br />
masculino se desdobra em sexo, e o feminino nele se cristaliza. Mas como se<br />
analisa hoje este binômio sexo/gênero?<br />
As teóricas feministas criaram a noção de gênero como categoria analítica<br />
da divisão sexuada do mundo, trazendo à luz a construção dos papéis sociais<br />
naturalizados em torno da matriz genital/biológica. Se a divisão é binária,<br />
entretanto, a sexualidade faz parte integrante de suas definições, pois as<br />
práticas sexuais são os componentes que ancoram os papéis sexuados. O<br />
binômio sexo/gênero se traduz assim, implícita e naturalmente em<br />
sexualidade reprodutiva, heterossexual.