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Amigos Leitores - Intervenção urbana

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como tropa de elite), mas era tão fiel a Hitler que este o tratava por "du"<br />

(aqui seria "você"), uma intimidade que não concedia a nenhum outro<br />

subordinado. (4) Mesmo quando os enciumados apontavam ao fuehrer a<br />

conduta escandalosa de Roehm, o ditador respondia que a vida privada do<br />

oficial não importava. (5) Quem diria, o velho tio Hitler mais tolerante que<br />

seus discípulos, e estes mais realisticamente "rainhas" que o rei! Ciúme de<br />

bicha é fogo! De bicha nazista, então, é faca!<br />

[5] Tanto é faca, que Heydrich acabou conseguindo incluir Roehm entre os<br />

sangrentamente expurgados como "traidores" na chacina conhecida como a<br />

Noite das Longas Facas, quando o comandante das SA foi tirado da própria<br />

cama (onde dormia com um de seus rapagões) para ser executado. (6) Antes<br />

disso Roehm já tinha sido temporariamente afastado do comando por causa<br />

das pressões das enciumadas. Passou umas férias forçadas (Pasmem!) na<br />

Bolívia, como assessor militar, de onde escrevia aos amigos, desconsolado<br />

porque naquele fim de mundo não havia quem o "entendesse"... (7) Voltou,<br />

reassumiu seu posto à frente das tropas (Eu disse "à frente"? Disse-o bem!),<br />

mas voltou para enciumar ainda mais as "malditas", que não o perdoavam<br />

por desfrutar tão abertamente aquilo que elas tinham de fingir combater<br />

com dossiês, triângulos e muito pigarro para engrossar a voz. Roehm, com<br />

sua cara brava marcada de cicatriz, morreu com fama de gostosão dos<br />

quartéis, enquanto Heydrich, com sua carinha de bebê Johnson, morreu<br />

num atentado, vítima dos guerrilheiros que resistiam à ocupação nazista na<br />

Checoslováquia. Bem feito, diriam as bichas comunistas e capitalistas.<br />

[6] Com todo esse histórico de alcova e bastidores, o nazismo não é o mais<br />

salutar exemplo de virtudes heterossexuais, mas mesmo assim inspira o<br />

moralismo hipócrita duma reduzida parcela da nova geração, cuja face mais<br />

estereotipada é a dos skinheads, tidos como radicais em seu preconceito, a<br />

ponto de lincharem gays pelas ruas em vários cantos do mundo. As<br />

ocorrências policiais não mentem, mas será que refletem o comportamento<br />

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da maioria desses fãs da bota e do suspensório? Para todos os efeitos,<br />

prefiro acreditar que é a música, mais que a polícia ou a política, a fonte<br />

fidedigna para aquilatar o grau de hostilidade homófoba desses jovens<br />

arruaceiros. A banda mais representativa do rock skin, os 4-Skins, era<br />

sugestivamente fálica a partir do nome, que trocadilha com "foreskins"<br />

(prepúcios) e insinua (segundo as más línguas, cujo paladar rejeita<br />

esmegma) que seriam incircuncisos e, portanto, anti-semitas. Mas isso não<br />

passa de chifre em cabeça de cavalo, ou melhor, em cabeça de caralho. Na<br />

verdade, as canções da banda não atacam judeus nem gays. Limitam-se a<br />

protestar contra a polícia, os políticos, os patrões, o desemprego, o<br />

consumismo, enfim, nada mais ou menos que o temário recorrente das<br />

bandas punks na época de Thatcher. Em todo caso, a alusão caralhal dos 4-<br />

Skins fez escola mundo afora: uma banda skin chilena se batizou como Ocho<br />

Bolas, e uma alemã como Smegma...<br />

[7] Entre as bandas que começaram quando os 4-Skins acabavam, duas<br />

merecem atenção: a Oppressed e a Condemned 84. O vocalista da<br />

Oppressed, Roddy Moreno, foi porta-voz do movimento SHARP, o que<br />

descaracteriza sua banda como nazista mas não a isenta da apologia de<br />

outros valores comportamentais da tribo, entre os quais a ultraviolência e a<br />

homofobia. Sobre a ultraviolência (termo popularizado entre os skins a<br />

partir do filme de Kubrick baseado no livro LARANJA MECÂNICA de Burgess),<br />

a canção homônima vê "tretas" por toda parte, no futebol, na rua, e até nas<br />

danceterias, cujo som, a "disco music", é universalmente identificado como<br />

"música de viado" e inspira compreensível nojo aos skins. Um dos versos da<br />

Oppressed manda o clubber enfiar sua música no cu: "Stick your disco up<br />

your ass!", no que faz coro com quase todas as bandas da música Oi!. Nunca<br />

é demais relembrar que a cena culminante do filme mostra em close o<br />

protagonista skin sendo obrigado a lamber a sola do sapato duma bichona,<br />

tipo dos mais antipáticos ao jovem rebelde. Quanto à Condemned 84,<br />

embora não fosse declaradamente pró-nazi, divergia das posições do SHARP

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