Amigos Leitores - Intervenção urbana
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apenas começaram. 'A apologia ao orgasmos, feita pelos reichianos, ainda<br />
me parece uma maneira de determinar possibilidades de prazer no sexual',<br />
escreve Foucault (Macey, 1994: 373). O clímax é próprio da integridade<br />
orgânica; orgasmo é o que os organismos fazem: 'Eu desmembrei seu corpo.<br />
Nossas mãos carinhosas não estavam juntando informações ou escondendo<br />
segredos, elas eram tentáculos de invertebrados desatentos; nossas<br />
barrigas, flancos e coxas estavam inclinados em um contato que apreende e<br />
mantém-se em nada. O que os nossos corpos fizeram ninguém fez' (Lingis,<br />
1994: 61).<br />
Desmembramento: a castração de Dionísio. Contra-memória. Esqueça para<br />
que é isso e aprenda o que isso faz. Não concentre-se em orgasmo, o<br />
significado pelo qual o sexo permanece escravizado à teleologia e à sua<br />
reprodução: 'faça de um corpo um lugar para a produção de prazeres<br />
extraordinariamente polifórmicos, enquanto, simultaneamente, separe-o da<br />
valorização da genitália, e, particularmente, da genitália masculina' (Miller,<br />
1993: 269). Foucault fez experimentos com decomposições do corpo,<br />
desmantelamento do organismo, fez experimentos técnicos com servidão e<br />
liberação, energia e resistência em uma 'ótica sadomasoquista de<br />
multiplicação e apropriação de corpos' e da ótica de 'uma criação de<br />
anarquia dentro do corpo, onde suas hierarquias, suas localizações e suas<br />
designações, sua "organicidade", se desejar, está em processo de<br />
desintegração' (Miller, 1993: 274).<br />
O masoquismo põe em considerável risco a antiga crença no princípio do<br />
prazer conebido por Freud. Se os processos mentais são governados pelo<br />
princípio do prazer, de tal maneira que seu primeiro alvo é evitar o<br />
desprazer e obter prazer, então o masoquismo torna-se incompreensível'.<br />
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Se ambos, 'dor e prazer, não podem ser simples avisos mas, na verdade, são<br />
objetivos, paralisa-se o princípio de prazer' (Freud, 1984: 413). Contudo, na<br />
época em que escreve "O Problema Econômico do Masoquismo", Freud<br />
sabe que o masoquismo nem sempre é uma reação ao controle de tipo<br />
sádico. O masoquista não é mera vítima escravizada: esta é a 'bobagem<br />
machista' de um discurso que não admite nada além de subjeção, uma<br />
perspectiva que não pode aceitar nenhuma outra relação (ou melhor, não<br />
pode aceitar nada além de relações). O masoquismo excede tais relações ao<br />
instituir a figura do dominador; de fato, isso vai além de todas as relações,<br />
não importa quão longe pareçam estar do aspecto paternal. Ela não é uma<br />
questão de reconhecimento, mas de sentimento: não é um desejo de ser<br />
prensado, mas um intenso desejo por comunicação, por contato, por<br />
acesso, por estar em contato. O masoquista 'usa o sofrimento como uma<br />
maneira de constituir um corpo sem órgãos e levar adiante um plano de<br />
materialização do desejo' (Deleuze e Guattari, 1988: 155).<br />
'Parem de confundir servidão com dependência', escreve Jean-François<br />
Lyotard. A 'questão da passividade não é uma questão de escravidão, a<br />
questão da dependência não é justificativa para ser dominado' (Lyotard,<br />
1993: 260). Confundindo as coisas, os circuitos e conexões são trazidos de<br />
volta às relações de superioridade e inferioridade, sujeito e objeto,<br />
dominação e submissão, atividade e passividade... e esses tornam-se pólos<br />
congelados de uma oposição que captura as reviravoltas e recuperam seus<br />
discursos.<br />
Beba-me, devore-me, use-me...