Amigos Leitores - Intervenção urbana
Amigos Leitores - Intervenção urbana
Amigos Leitores - Intervenção urbana
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
nuclearmente voltado ao combate à misoginia e à homofobia como<br />
expressões radicais do sistema de gêneros no mundo contemporâneo sem<br />
que, contudo, do ponto de vista de sua forma mesma, tal trabalho<br />
aprofunde e consolide as determinações do sistema mas, ao contrário,<br />
buscando incorporar todos os indivíduos que se coloquem na perspectiva<br />
desse combate, experimentando superar, assim, na própria forma de nossa<br />
constituição como movimentos autônomos de recusa ao sistema de<br />
gêneros, as suas determinações. Ousemos pois, como nos sugere a palavra<br />
de ordem da convocação deste seminário, quebrar as determinações do<br />
sistema. "Ni Hombres, Ni Mujeres, sino TODO LO CONTRÁRIO!!!"<br />
Notas:<br />
1. Indivíduo, tal como pensamos aqui, designa simplesmente a absoluta<br />
unicidade, a singularidade absoluta que faz dos homens entes radicalmente<br />
diversos entre si. Não é possível, dados os limites dessas teses, enfrentar<br />
aqui a complexa questão de fundamentar esse uso do conceito de indivíduo.<br />
Usamo-lo aqui na medida em que ele parece, na linguagem comum, traduzir<br />
exatamente a idéia de unicidade que aqui se quer sublinhar. Isso não<br />
significa, contudo, que não haja uma clara consciência do quão<br />
problemático é esse conceito, sobretudo quando consideramos a<br />
perspectiva central dessas teses, que é a de sublinhar a luta pela diferença.<br />
Seria, entretanto, necessária uma longa digressão - que não cabe nos limites<br />
dessas teses - para legitimar o uso que aqui fazemos dele. Não se trata, pois,<br />
de um uso acrítico do conceito, mas de "contornar" o problema,<br />
contentando-nos, provisoriamente, com o significado usual de indivíduo<br />
como o único, não como "um" de uma espécie.<br />
2. Não é à toa que a representação é o modo próprio de ser da vida social<br />
no mundo do tráfico mercantil: a esfera da política, a esfera da "coisa<br />
pública" compreendida como tarefa de especialistas, de uma parte<br />
203<br />
destacada das individualidades, se apresenta aí e tem que se apresentar,<br />
como representação. A vida em comum não é, no mundo do tráfico, algo<br />
que nos diz respeito diretamente, ela deve ser coisa dos representantes. Os<br />
políticos tomam, na esfera do "público", o lugar do trabalho abstrato na<br />
esfera da economia: como o outro, usurpam o lugar do concreto, do real, e<br />
põe a sua representação. A representação na esfera da política é, assim, a<br />
extensão do princípio do simulacro presente na forma nuclear do mundo do<br />
tráfico mercantil: o trabalho na sua forma abstrata é representação<br />
universal real do trabalho concreto. Não há indivíduos e nem vontades, há<br />
cidadãos e representantes da vontade. Mas a vontade, já dizia o primeiro<br />
grande crítico da representação no mundo moderno, não pode ser<br />
representada, porque a vontade não se transfere.<br />
3. Não é aqui o momento, evidentemente, para tratar das relações do<br />
homem com a natureza e da sua feição historicamente destruidora. Não se<br />
trata, aqui, de uma valoração iluminista, progressista, das relações do<br />
homem com a natureza, mas do simples reconhecimento da cultura como<br />
aquilo que é próprio do invenção de si mesmo pelo homem. Que essa feição<br />
destruidora é a face das relações entre o homem e a natureza sobretudo a<br />
partir da constituição do capitalismo, é uma outra questão, certamente<br />
central para um projeto de superação do mercado, que extrapola,<br />
entretanto, os limites destas teses.<br />
4. Sistema aqui significa um processo real de eliminação da diferença a<br />
partir de certas particularidades. Tomando certos caracteres particulares<br />
que diferenciam alguns indivíduos entre si e ao mesmo tempo os<br />
identificam com outros, remetendo-os, assim, a uma totalidade, a<br />
individualidade é agora pensada não só como diferença, mas também como<br />
identidade. O sistema é, assim, o modo no qual, ao ser integrada numa<br />
totalidade, a individualidade é precisamente negada na sua irredutível<br />
diferença. Ao ser "parte" de uma totalidade, todo indivíduo é, ao menos em