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Amigos Leitores - Intervenção urbana

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no comunismo-anarquista, que por "recusar satisfação a necessidades<br />

afetivas" se entenda simplesmente a "recusa em satisfazer necessidades<br />

econômicas ou intelectuais". De outro modo, a organização comunistaanarquista<br />

seria inferior à sociedade burguesa, em que florescem as<br />

mentiras, as traições, as hipocrisias, e, o que é pior, a prostituição.<br />

Além disso, defendo a tese de que uma sociedade, arquista ou anarquista,<br />

na qual as necessidades afetivas, duma espécie ou de outra, tropecem com<br />

a negativa do meio em satisfazê-las, implica ou requer a PROSTITUIÇÃO, ou<br />

outro sistema análogo, consistente em pôr a margem uma categoria de<br />

mulheres ou de homens destinada, em troca de remuneração adequada, a<br />

satisfazer os desejos e as necessidades sentimentais ou sexuais daqueles ou<br />

daquelas a quem se opõem restrições ou recusas. E quem diz prostituição<br />

diz também proxeneta, rufião e cafetina.<br />

Pode-se me responder que estes problemas serão examinados... no dia<br />

seguinte ao da revolução. Assim se evita o debate, assim se foge ante a<br />

dificuldade! Significa isto, por outro lado, que não haverá comunistasanarquistas<br />

até o dia-seguinte da revolução, isso é, que eles não existem<br />

atualmente. E se não há comunistas-anarquitas, como pode se formular um<br />

programa, redigir-se um manifesto comunista-anarquista? Fraca solidez há<br />

nisto!<br />

Em seus Propos Subversis (1920), capítulo "La Femme", o mesmo onde nos<br />

expõe sua definição de amor, o camarada Sébastien Faure considera, como<br />

eu, que o problema é de atualidade, visto que escreve: "Se no espantoso<br />

deserto, que é a vida para a maior parte de nós, se encontra um oásis<br />

fresco, repousante e alegre, no qual, chegada a noite e depois de haver,<br />

durante o dia todo, caminhando sob um sol abrasador, o viajante se sente<br />

feliz por encontrar a tranqüilidade, a amenidade e a frescura, a fonte que<br />

acalma a sêde de repouso e refrigério de que necessita, não deveria este<br />

9<br />

oásis, camaradas, ser o amor?". Ora, um problema de atualidade, como<br />

este, deve ser resolvido agora, pois de outra forma os que recusam tratá-lo<br />

estão expostos, com razão, a que por isso os considerem impotentes para<br />

tal.<br />

***<br />

Aceito esta concepção do amor (que nada tem, aliás, de original), como um<br />

oásis no horrendo deserto da vida, oásis fresco, alegre e repousante, no qual<br />

não somente o militante, o propagandista ,como também o simples<br />

companheiro encontrarão descanso, refrigério, essa fonte sedativa de que<br />

têm necessidade.<br />

Mas para que o amor seja este oásis acho que deve despojar-se dessa altivez<br />

romântica que o fazia "espontâneo, incompreensível, caprichoso,<br />

irresistível", atributos que o tornavam, na maioria da vezes, um sacrifício,<br />

um tormento, atributos que justificam os "ciúmes passionais", estado<br />

mórbido que leva até o cometimento de assassínios, exigindo medidas de<br />

precaução de ordem arquista.(4)<br />

Para que o amor seja esse oásis, insisto em que deve ser despojado de seu<br />

caráter exclusivo, monopolizador, proprietarista.<br />

Enquanto conservar este caráter, será de ordem arquista, pois que implica<br />

propriedade ou exclusividade de sentimento ou do corpo do ser a quem se<br />

diz amar, subtração ou usurpação de manifestações de suas necessidades<br />

amorosas, ameaças feitas mais ou menos ostensiva ou tacitamente.<br />

Penso, enfim, que o amor é um sentimento perfeitamente analisável e que<br />

deixa de ser espontâneo, caprichoso ou irresistível, conforme se eduque.

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