Amigos Leitores - Intervenção urbana
Amigos Leitores - Intervenção urbana
Amigos Leitores - Intervenção urbana
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
também fazia as garotas. Ou, então, fazíamos entre nós. Passamos um<br />
período em São Francisco no qual, em quase todas as festas, tirávamos a<br />
roupa e acabávamos na cama com uma ou duas pessoas. Tratávamos de<br />
começar as orgias, apenas tirávamos a roupa, dávamos umas voltas pela<br />
festa e não fazíamos mais nada.<br />
YOUNG – Quando vi a dedicatória de “Uivo” senti curiosidade por tua<br />
relação com Carl Solomon.<br />
GINSBERG – Essa nunca foi uma relação erótica. Em 1948, estive num<br />
hospital psiquiátrico por ter sido preso numa situação que envolvia<br />
maconha e carros roubados – uma merda de prisão, típica de universitário.<br />
Naquela época, quando você pertencia a uma família de bem eles te<br />
mandavam para um manicômio para não te mandar para a cadeia. De modo<br />
que minha prisão teve este privilégio da classe média. Fui parar no Instituto<br />
Psiquiátrico de Nova York, na rua 168.<br />
No dia em que dei entrada com todos meus pacotes, conheci essa figura<br />
maravilhosa (Carl Solomon) que acabara de sair de uma sessão de eletrochoque.<br />
Estava esperando que me indicassem um quarto, nervoso e perdido<br />
e perguntando-me o que eu estava fazendo naquele instituto psiquiátrico<br />
com todos aqueles supostos malucos. Preocupava-me a idéia de ter perdido<br />
contato com a realidade.<br />
Carl Solomon perguntou-me quem eu era. Parecia tão inteligente e literato<br />
que desejei ver se tinha algum esprit. Respondi: “Sou o príncipe Mishkin”,<br />
(um personagem místico de “O Idiota”, de Dostoievski). Ele respondeu: “Sou<br />
73<br />
Kirilof”, (um duro niilista de “Os Demônios”, também de Dostoievski). Nessa<br />
altura, chegamos a um curioso entendimento. Mais tarde, tivemos uma fase<br />
literária: escrevíamos cartas imaginárias para T.S. Eliot. Ele me introduziu na<br />
obra de Genet e de Artaud.<br />
Sabia muito de literatura francesa e de surrealismo. Ele me iniciou na<br />
literatura francesa que eu havia deixado escapar. Levou-me ao Village e,<br />
através do seu olhar, comecei a apreciar o Village subterrâneo dos anos<br />
1949/50. Ele escreveu pequenas coleções de contes medulares – histórias e<br />
aforismos.<br />
É meu amigo até hoje e esteve aqui há um mês. Nos reunimos umas duas<br />
vezes por ano e passamos um tempo juntos. Em certa fase, ele defendia<br />
uma ideologia marxista bem forte e logo passou a ser antimarxista. Viveu<br />
uma série de mudanças loucas e camaleônicas, em busca da maneira mais<br />
lúcida de convencer todo mundo de que estamos, inexoravelmente, loucos.<br />
YOUNG – Lembro-me de ter ouvido que durante a época de maior excitação<br />
em torno do LSD, Timothy Leary fez algumas declarações e disse ser capaz<br />
de curar o homossexualismo. Lembro-me que você disse ter tido uma<br />
experiência heterossexual sob o efeito de LSD.<br />
GINSBERG – Tive uma experiência-fantasia emocionalmente heterossexual<br />
relacionada com a minha mãe e garotas. Mas todo mundo experimenta isso<br />
sob o efeito de LSD. Foi uma descoberta de emoções-sentimentos<br />
heterossexuais relacionados com a minha mãe, logo eu, que havia rejeitado<br />
tantas garotas! Quando Leary buscava informações e testemunhos sobre o