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Amigos Leitores - Intervenção urbana

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Não fui me queixar aos gritos na revista “Time” de que tinha sido expulso de<br />

Cuba aos trancos. Limitei-me a conceder-lhes o beneplácito da dúvida,<br />

dando como um fato que eu era como um peão no tabuleiro de xadrez.<br />

Tratava-se de uma luta entre os grupos liberais e o aparato burocrático dos<br />

militares. Percebi também que quanto mais os Estados Unidos<br />

pressionassem Cuba, mais poder a ala direitista, o aparato policial e os<br />

acólitos do Partido adquiriam. O problema real era amortecer a pressão<br />

exercida pelos EUA, acabar com o embargo em vez de “culpar” a Revolução,<br />

Castro ou o marxismo – apesar de que continuo acreditando que Castro não<br />

teve muito tato com relação ao tema do homossexualismo; houve<br />

insensibilidade e negligência machista excessivas da parte dele.<br />

YOUNG – Quando estive lá em 1971, na conferência de jornalistas,<br />

compareci a uma recepção junto a uma grande piscina. Todos se acotovelam<br />

ao redor de Fidel que se divertia entabulando uma conversa animada com<br />

várias pessoas. Senti-me deslocado. Eu era o único homem que não tinha<br />

cabelo curto, paletó e gravata, com exceção de alguns africanos em trajes<br />

típicos. Não me apetecia a idéia de enfiar-me no meio de um tumulto para<br />

falar com um homem famoso.<br />

Decidi bater um papo com outras pessoas. Falei com um comandante muito<br />

destacado, um tipo negro que havia lutado ao lado de Fidel na serra e que<br />

estava no Comitê Central. Karen Wald, uma americana que nos<br />

acompanhava, perguntou-lhe sua opinião sobre o machismo. E ele disse:<br />

“Vaya, hombre, es fabuloso!” Até hoje não consegui saber se estava<br />

brincando ou se a sua reação obedecia a uma verdade profunda: que o<br />

machismo é muito importante e apreciado pelo homem cubano.<br />

GINSBERG – A questão reduz-se ao problema do machismo – tanto aqui, nos<br />

EUA, como em Cuba – do ponto de vista das táticas revolucionárias. De fato,<br />

a Liberação Gay tem, em certo sentido, um enfoque adequado para os<br />

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heterossexuais com idéias contemporizadoras de classe média acerca do<br />

poder, não importa de que canhão elas saiam.<br />

YOUNG – Acho que houve certa esquizofrenia na ala radical da Liberação<br />

Gay. Todos dizem estar contra o poder. Na realidade, a maioria das pessoas<br />

que conheço na ala radical do Movimento não gosta nem sequer de usar o<br />

slogan “Poder Homossexual”, por causa da palavra “poder”.<br />

GINSBERG – Gregory Corso tem um magnífico poema chamado “Poder”, te<br />

convido a dar uma olhada nele. Foi escrito em 1959 e diz: “Estar parado<br />

numa esquina, sem esperar ninguém, isso é Poder...” “A sede de poder é<br />

beber areia.”<br />

YOUNG – Por um lado, as pessoas atacavam o conceito global de poder e<br />

tratavam de eliminar o poder das relações pessoais. Mas, por outro lado,<br />

existia o desejo de tomar parte da esquerda, resumido no slogan: “Junte-se<br />

à esquerda, torne-se gay, empunhe uma arma.” Uma variante do slogan dos<br />

Panteras Negras.<br />

GINSBERG – Embora possa servir como vínculo entre o machismo e os gays,<br />

também serve para desinflar a pompa do poder negro ou branco os quais, às<br />

vezes, são realmente um pouco ridículos. O slogan “O poder sai do cano de<br />

uma arma” era, em todo momento, alheio à situação norte-americana. Não<br />

havia suficiente imaginação nem poesia quanto a táticas. Como transformas<br />

e convertes a América do Norte? Foi um indício de falta de imaginação que<br />

levou as pessoas à violência; o problema sempre foi nada mais do que<br />

violência mental, cegueira e raiva. Na realidade, a Liberação Gay fez brilhar<br />

todo o machismo da esquerda.

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