Amigos Leitores - Intervenção urbana
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FEEDBACK E CIBERNÉTICA: REIMAGINANDO O CORPO NA ERA DO<br />
CIBORG (Parte 1)*<br />
David Thomas<br />
Palavras possuem força aterradora<br />
(Colin Cherry, 1980: 68)<br />
O "ciborg", ou "organismo cibernético", representa uma visão radical do que<br />
significa ser um humano no mundo ocidental no fim do século XX. Embora a<br />
palavra tenha uma origem oficial datada de 1964, quando foi concebida<br />
para descrever uma união especial de organismo humano e sistema de<br />
máquina, pela última década tem ganho uma certa notoriedade tanto na<br />
cultura de filmes populares quanto em círculos acadêmicos especializados.<br />
Filmes como Blade Runner (1982), a trilogia Alien, a série O Exterminador do<br />
Futuro (Terminator - 1984, 1991), a série Robocop (1987, 1990) e o clássico<br />
cult britânico Hardware (1990) apresentam uma visão do ciborg que vai do<br />
modelo da pura máquina militar ao modelo do humano, esculpido<br />
geneticamente. Trata-se de modelos e simulações geralmente designados<br />
para funcionar em mundo hostis, distópicos e futuristas, governados por<br />
vários tipos de atividades corporativas ou militares/industriais renegadas, ou<br />
pelas conseqüências dessas atividades. De resto modelos de protociborgs<br />
benignos podem ser encontrados sob forma de esboço, ainda que menos<br />
imaginária mas não menos militarizada, nas revisões da idéia masculinidade<br />
exploradas no contexto da mudança de ênfase do programa espacial<br />
americano que figura no teste de piloto para astronauta apresentada no<br />
best-seller - e no filme nele baseado - de Tom Wolfe, The Right Stuff (1979).<br />
Por outro lado, modelos de ciborgs alternativos têm sido explorados numa<br />
veia mais especulativa, e de um ponto de vista acadêmico mais fechado,<br />
ainda que de uma ótica de oposição, na meditação seminal de Donna<br />
117<br />
Haraway, "A cyborg Manifesto: Science, Technology, and Socialist-Feminism<br />
in the Late Twentieth Century".<br />
O sucesso dos filmes de ciborg e a influência do manifesto de Haraway sobre<br />
o tema sugerem que esta palavra tem funcionado de algum modo através<br />
do anos 80 como uma palavra-chave, no sentido de Raymond William. Isto<br />
é, "palavras significantemente limitadoras em certas atividades e suas<br />
interpretações" (Williams, 1983:15)(1). Existem, porém, várias outras<br />
palavras que pavimentaram o caminho para falarmos no "ciborg" e seu<br />
modo "híbrido" específico de reimaginar o corpo humano sob o signo da<br />
máquina. Dentre essas palavras, algumas das quais existiram durante<br />
décadas, outras por vários séculos, incluem-se "autômato", "automação" e<br />
"automático", "andróide" e "robô"; outras, como "biônico", apareceram por<br />
volta da mesma época em que o termo "ciborg" foi concebido.<br />
Mais tarde, apresentaram-nos uma outra palavra, ciberespaço, também<br />
conhecida como "realidade virtual", que já começara a circular nos discursos<br />
populares e acadêmicos sobre o futuro do corpo humano, freqüentemente<br />
na companhia da palavra "ciborg" ou suas imagens. Seja com o disfarce de<br />
"ciberespaço", uma palavra inicialmente concebida por William Gibson em<br />
seu premiado romance de ficção cientifica, Neuromancer (1984), ou sob a<br />
forma de "realidade virtual", a idéia de um novo modo digital<br />
computadorizado articulando e, sem dúvida, reimaginando o corpo humano<br />
tem sido explorado em romances, incluindo Count Zero (1986) e Mona Lisa<br />
Overdrive (1988), ambos do próprio Gibson; filmes (como Brainstorm [1983]<br />
e The Lawnmover Man [1992]); bem como numa grande quantidade de<br />
textos acadêmicos e populares (2).<br />
Por isso, não é difícil de imaginar que palavras como "autômato",<br />
"automação", "automático", "robô", "biônico", "ciborg" e "ciberespaço"<br />
podem constituir um ajuntamento williamsiano de palavras-chave, na