10.06.2013 Views

Amigos Leitores - Intervenção urbana

Amigos Leitores - Intervenção urbana

Amigos Leitores - Intervenção urbana

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

ompimento, ciúmes, que pouca ou nenhuma relação tem com a mais<br />

elementar concepção de camaradagem amorosa, visto que esta é algo mais<br />

que um encontro fortuito em momento de reuniões distanciadas. Tenho por<br />

certo que entre camaradas que se frequentam assiduamente a aplicação da<br />

definição de Sébastien Faure engendraria inevitavelmente o sofrimento,<br />

como a seguir demonstrarei.<br />

Tenho-me encontrado com certos místicos, que me objetam que "o<br />

sofrimento é necessário ao aperfeiçoamento ou evolução individual". Se<br />

assim é, porque clamar então contra o sadismo e o masoquismo? Não, o<br />

sofrimento não é fator de aperfeiçoamento individual, mas sim fator de<br />

vingança, de discórdia, de ódio, de inimizade, numa palavra, de<br />

empobrecimento ou involução. Concentrar todo o dinamismo individual na<br />

vingança ou na discórdia é encolher, secar até a esterilidade o uso das<br />

faculdades, que poderiam de outra maneira servir ao desenvolvimento<br />

ininterrupto da personalidade.<br />

Não ignoro que há indivíduos, espiritualistas ou materialistas, que podem se<br />

comprazer no padecimento, encontrando prazer na dor. Mas isto não é mais<br />

que um erro de expressão. Tal espécie de seres humanos encontra prazer<br />

naquilo que nos faz sofrer, naquilo que o nosso egoísmo reduz ou repele. É<br />

uma exceção que confirma a regra.<br />

Não é o sofrimento que aperfeiçoa o indivíduo, mas sim a busca, a<br />

perseguição de experiências. Quanto mais experiências tiver realizado um<br />

ser humano, tanto mais se haverá aperfeiçoado ou enriquecido<br />

mentalmente, tanto maior consciência haverá adquirido das suas reações e<br />

aptidões, mais conscientemente se haverá dado conta da amplitude do seu<br />

determinismo. A investigação pode conduzir a uma tensão extraordinária do<br />

esforço pessoal (cerebral ou muscular, ou os dois ao mesmo tempo), mas<br />

7<br />

nisso não há sofrimento nem dor, visto que tal tensão tem como finalidade<br />

a conquista de um estado de prazer melhor afirmado, melhor sentido.<br />

Disse atrás que a definição que Sébastien Faure nos dá de amor<br />

("espontâneo, incompreensível, caprichoso, irresistível") é suscetível de<br />

gerar sofrimento. E isto porque conduz ao rompimento brutal, ao abandono<br />

brusco, ao desapiedado "mal-querer", ao deslocamento cruel das<br />

associações afetivas, etc. Se o amor é "irresistível" e "espontâneo", o é tanto<br />

para o solteiro como para a mãe de seis filhos, para o isolado como para o<br />

que vive em matrimônio, para a mulher e o homem jovem como para a<br />

mulher e o homem de idade. Em minha opinião, um comunista-anarquista<br />

não poderia querer, exceto se fosse mentiroso, que se criasse uma classe<br />

privilegiada, a quem as circunstâncias econômicas (ou o seu direito de<br />

coabitação, ou a sua recusa a constituir família) colocassem em condições<br />

de aproveitar-se da definição do amor, tal como nos formula Sébastien<br />

Faure, enquanto existisse uma classe deserdada, sacrificada, numa situação<br />

econômica, ou familiar, ou física tal, que não pudesse beneficiar-se de tal<br />

definição. E o elemento feminino seria a primeira vítima, coisa que o<br />

comunismo-anarquista não pode pretender, estou certo.<br />

Os comunistas-anarquistas jamais quiseram, com efeito, que no que<br />

concerne a satisfações afetivas alguém seja sacrificado. O "Manifesto de<br />

Orleans", novamente aceito pelo grupo comunista-anarquista de Saint-<br />

Etienne, afirma que a organização social, que os seus redatores reivindicam,<br />

assentará sobre a livre organização de produtores e consumidores,<br />

associados com o objetivo de satisfazerem "todas as suas necessidades",<br />

entre elas as quais o manifesto cita as afetivas.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!