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Amigos Leitores - Intervenção urbana

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maneira aberta, limitando-me a dar e receber. Com Jack e com Neal, com<br />

heterossexuais principalmente, que não aceitaram de maneira total a<br />

sexualização da nossa ternura, eu sentia como se eu a estivesse impondo;<br />

de tal forma, que me sentia inibido quando eles queriam, reciprocamente,<br />

transar comigo – o que sucedeu poucas vezes. Quando topavam fazer<br />

comigo era como uma bênção do céu. Uma vez envolvido nisso, obtém-se<br />

um prazer muito peculiar: dor/perda absoluta/esperança. É maravilhoso<br />

quando gozamos ao chupar alguém. E basta ser tocado uma única vez para<br />

derreter toda a estrutura da vida, o coração, os genitais e a terra. Até às<br />

lágrimas.<br />

Enfim.... Peter voltou (tinha colocado seu grande quimono), abriu o<br />

quimono – estava nu – envolveu-se nele de novo e me atraiu para si; nos<br />

aproximamos ventre com ventre, rosto com rosto. Tudo foi tão honesto,<br />

livre e aberto que esta foi uma das primeiras vezes que me senti como um<br />

menino. Então, encorajado, enrabei Peter. Ele chorou quase imediatamente<br />

e fiquei assustado, ignorando o que eu poderia ter feito para provocar o<br />

choro, mas totalmente emocionado diante do fato de que ele estivesse tão<br />

comprometido ao ponto de chorar. Ao mesmo tempo, minha parte sádica e<br />

dominadora sentiu-se lisonjeada e excitada eroticamente.<br />

A razão do choro foi que ele percebeu o tanto que estava me dando e o<br />

muito que eu exigia-lhe, pedia-lhe e tomava-lhe. Acho que chorou por verse<br />

nessa situação sem saber como havia chegado até ali. Não sentia que<br />

fosse errado, mas estava surpreso diante daquela estranheza. A mais crua<br />

das razões para chorar.<br />

Foi então que Robert, ao ouvir e compreender a situação, veio consolar<br />

Peter. Eu me sentia muito possessivo e chamei Robert para o lado. Isso<br />

provocou uma curiosa desconfiança entre Robert e eu, o que durou um ou<br />

dois anos antes que os nossos karmas, por fim, se dissolvessem. Então ele<br />

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compreendeu que podia caminhar sozinho e que eu estava oprimido pelo<br />

karma do amor.<br />

Peter era essencialmente heterossexual e sempre o foi. Acho que esta foi<br />

outra das razões do seu trauma – o peso da minha possessão sádica ao<br />

enrabá-lo. Pela primeira vez na minha vida eu tinha a oportunidade de foder<br />

com outra pessoa! Achou que isso o feriu e me fascinou um pouco. Por isso<br />

tivemos de trabalhar aquele aspecto da nossa relação durante muitos anos.<br />

Às vezes, é doloroso.<br />

Talvez tenhamos dormido junto mais uma vez. No Natal de 1954 tive de ir a<br />

Nova York para o casamento de um dos meus irmãos. Ao voltar, convidado<br />

por eles, mudei-me para o apartamento onde viviam. Na época já existia um<br />

triângulo entre Robert, Peter e eu. Peter não tinha decidido se queria ou<br />

não estabelecer uma relação mais permanente comigo. Tinha meus olhos<br />

postos nele para um amor que durasse toda a vida. Eu estava<br />

completamente apaixonado e intoxicado. “A pessoa perfeita para mim”,<br />

pensava. Robert não estava certo se cometera algum disparate ao ver o<br />

fluxo de vitalidade despertado entre Peter e eu. Peter começou a se retrair.<br />

Sentia-se engolfado por esta rivalidade entre Robert e eu e, ao mesmo<br />

tempo, havia a sua insegurança em relação a mim e a relação comigo. De<br />

qualquer maneira, ele gostava de garotas, mas então o que fazia ali deitado<br />

sendo fodido por mim?<br />

Por tudo isso, mudei-me para o Hotel Wentley localizado em frente ao<br />

apartamento de Robert. Eu estava trabalhando com estudo de mercados.<br />

Tive a brilhante idéia de que toda a classificação e estudo de mercado que<br />

havia feito podiam ser transferidos para uma máquina e dessa forma eu não<br />

teria de somar todas aquelas colunas. Supervisionei a mudança e isso me<br />

deixou sem trabalho, como um rompimento sem mágoas. E obtive um<br />

seguro desemprego.

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