06.03.2014 Views

II Caderno - Instituto dos Registos e Notariado

II Caderno - Instituto dos Registos e Notariado

II Caderno - Instituto dos Registos e Notariado

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Nº 4/2005 – Maio/Junho/Julho 2005 60<br />

portugueses, ainda que algum destes factos ocorra<br />

no estrangeiro.<br />

Cândida Rodrigues Dias referia: 1<br />

“No artigo 2.º estabelece-se o princípio da<br />

obrigatoriedade do registo.<br />

É uma obrigatoriedade geral e absoluta no<br />

sentido de que têm de ser leva<strong>dos</strong> ao registo to<strong>dos</strong><br />

os factos e actos a ele sujeitos, seja qual for o lugar<br />

da sua verificação, desde que respeitantes a<br />

cidadãos portugueses, assim como to<strong>dos</strong> os que<br />

ocorrem em território português ainda que<br />

referentes a estrangeiros”.<br />

Estes factos, estipula o art.º 2.º do CRC<br />

actual, só podem ser invoca<strong>dos</strong> depois de<br />

regista<strong>dos</strong> 2 , salvo disposição legal em contrário<br />

como as constantes <strong>dos</strong> art.ºs 1601.º, al. c), 1711.º,<br />

n.º 1, 1920.º-B, al. c) e 147.º e 1834.º, to<strong>dos</strong> do<br />

Código Civil (CC).<br />

Dispõe depois o art.º 3.º que a prova<br />

resultante do registo civil quanto aos factos de<br />

registo obrigatório e ao estado civil correspondente<br />

não pode ser ilidida por qualquer outra, a não ser<br />

nas acções de estado e nas de registo.<br />

Conclui-se, pois, que os factos cujo registo é<br />

legalmente obrigatório não podem ser invoca<strong>dos</strong><br />

enquanto não regista<strong>dos</strong>, independentemente do<br />

lugar da respectiva celebração. Acresce que, como<br />

estipula o art.º 4.º, a prova <strong>dos</strong> factos sujeitos a<br />

registo só pode ser feita pelos meios previstos no<br />

mesmo Código, meios que, como dispõe o art.º<br />

211.º, são a certidão, o boletim ou o bilhete de<br />

identidade.<br />

Como escrevia Cândida Rodrigues Dias 3 a<br />

prova que resulta do registo civil é privilegiada<br />

“…no sentido de que não cede perante qualquer<br />

outro meio de prova como certificação <strong>dos</strong> factos<br />

ou actos sujeitos a registo – é, por isso, prova<br />

absoluta e pleníssima; extremamente ampla, como<br />

prova integral que abrange os próprios efeitos<br />

jurídicos inerentes aos actos ou factos que certifica<br />

– respeita à atestação <strong>dos</strong> factos inscritos e, mais<br />

1 Código do Registo Civil de 1958, pág.ª 21, comentário aos<br />

artigos 1.º e 2.º.<br />

2 Quanto ao casamento atente-se ainda no art.º 1669.º do CC.<br />

3 Idem, pág.ª 25.<br />

do que isso, determina as consequências desses<br />

factos, provando o correspondente estado civil.<br />

Favorecida por uma presunção legal de<br />

verdade com força quase ilimitada, a prova<br />

fornecida pelo registo goza de autoridade<br />

semelhante à do caso julgado, é verdadeiro acto de<br />

jurisdição, cujo valor só pode ser ilidido mediante<br />

a competente acção de registo…”<br />

Como referem Pires de Lima e Antunes<br />

Varela 4 :<br />

“Os livros do registo civil são, assim, a<br />

matriz forçosa de to<strong>dos</strong> os factos que interessam<br />

ao estado das pessoas”.<br />

Parece, pois, poder concluir-se que os<br />

elementos da identificação <strong>dos</strong> pais, exigi<strong>dos</strong> no<br />

art.º 102.º, n.º1, al.e) do CRC como requisitos<br />

especiais, a lançar no assento de nascimento do<br />

filho só poderão ser os que os mesmos puderem<br />

provar pelos meios atrás referi<strong>dos</strong>.<br />

2.2. Analisemos, porém, com mais algum<br />

detalhe em que consiste o estabelecimento da<br />

filiação.<br />

Castro Mendes 5 refere que a filiação não é<br />

apenas e só um vínculo de base natural mas<br />

também um vínculo jurídico e registado.<br />

Desenvolvendo essa ideia, escreve F.<br />

Brandão Ferreira Pinto 6 :<br />

“Vínculo jurídico, porque não basta que uma<br />

pessoa seja gerada por outra para que nasça uma<br />

relação de filiação; é necessário que se dê o<br />

reconhecimento de tal facto na ordem jurídica. A<br />

este reconhecimento chama a lei estabelecimento<br />

da filiação, ao prescrever no art.1797.º do CC, que<br />

somente na hipótese de a filiação se encontrar<br />

legalmente estabelecida se pode atender aos<br />

poderes e deveres emergentes da filiação…<br />

Vínculo registado, porque ainda não basta<br />

que a filiação se encontre legalmente estabelecida,<br />

sendo essencial que ela conste do registo civil…”.<br />

4 Código Civil Anotado, Volume V, Coimbra Editora, pág.ª<br />

34.<br />

5 A pág.ªs 233-234 de O Direito.<br />

6 Filiação Natural, Livraria Almedina, Coimbra 1983, a<br />

pág.ªs 43 e sg.s.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!