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EATI N ’OUT

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Perfil gastronômico<br />

MU CARVALHO<br />

Dos hits das rádios às adegas da Borgonha, a saborosa trajetória do<br />

músico que só pensa em harmonia<br />

Pedro Mello e Souza<br />

Quem se lembra do grupo A Cor do Som, de hits como Palco e Eu também quero beijar, bebeu da boa<br />

fonte dos anos 80. E quem diria, podemos continuar bebendo bem graças a um dos músicos daquela<br />

banda: Mu Carvalho. A música está mais presente do que nunca em sua vida – é um dos mais requisitados<br />

produtores de trilhas sonoras da TV Globo – mas para nossos ouvidos; a gastronomia também é um<br />

de seus instrumentos prediletos. Ao lado da mulher, Ana Zingoni, ele é, hoje, produtor de vinhos na<br />

Borgonha, gourmet de mão cheia, integrante de confrarias de bons copos, cronista em seu próprio blog<br />

sob o pseudônimo Alain Gouste e jurado de alguns dos prêmios mais importantes da mesa brasileira.<br />

Parte dessa trajetória, que envolve harmonias das partituras aos grandes rótulos está aqui, na entrevista<br />

que concedeu à Eatin’Out.<br />

Música e gastronomia, quem veio<br />

primeiro?<br />

Acho que chegaram juntas. Cresci<br />

ouvindo minha mãe, também pianista,<br />

tocando os compositores clássicos<br />

europeus, assim como os populares<br />

brasileiros. Minha avó Alice, mãe da<br />

minha mãe, tocava nas matinês do<br />

cinema central de Juiz de Fora. Era<br />

pianista de cinema mudo e excelente<br />

cozinheira. As empadas da minha avó,<br />

carrego como referência na minha<br />

memória, e acho que é por isso que fico<br />

até hoje procurando uma boa empada<br />

pelos bares do Rio.<br />

Qual o primeiro prato que preparou<br />

e por quê?<br />

A cozinha sempre me interessou.<br />

Dona Maria, que trabalhava na casa<br />

dos meus pais aprendeu muito com<br />

minha mãe que herdou da vovó Alice a<br />

comida mineira, de fazenda, tipo fogão<br />

de lenha. Cresci de olho no fogão da<br />

Maria. Ela cozinhava muito bem… Bobó<br />

de camarão, cozido, vatapá, fazia de<br />

tudo e, é claro, aquele feijão bem-feito<br />

assim como o arroz. Arroz é tipo aquele<br />

acorde menor com sétima maior na<br />

música. Não é pra qualquer um. E ainda<br />

rola aquele papo de arroz soltinho. Isso<br />

sempre, achei caído. Arroz tem que ter<br />

aquele brilho, quase grudadinho, muita<br />

cebola (e nenhum alho!!), já o feijão<br />

com muito alho e a folha de louro, claro.<br />

Tenho essa base como referência e<br />

faço essas coisas todas, mas o primeiro<br />

prato que fiz deve ter sido mesmo um<br />

simples ovo mexido...(rs).<br />

Quais os sabores de infância que<br />

mantém até hoje?<br />

Meu pai era um gourmand. Gostava<br />

de comer bem e sabia das coisas. Em<br />

Ipanema, ao lado do prédio que a gente<br />

morava tinha uma loja de produtos<br />

importados, a Dibraco. Meu pai tinha<br />

conta lá. A gente levava tudo pra casa.<br />

Conheci alguns queijos franceses<br />

nessa época, final dos 60. Camenbert,<br />

Port Salut, Brie, eles tinham esses<br />

produtos e naquela época era um luxo<br />

isso. Mas a coisa do tempero mineiro.<br />

A empada da minha avó, com aquela<br />

“massa podre”, feita com gordura de<br />

porco. O cozido é um dos pratos que<br />

mais gosto, mas tem que ser bem-feito.<br />

Eu quando faço, gosto de refogar tudo.<br />

Os legumes todos são salteados no<br />

azeite e alho e aquele pirão, amo pirão,<br />

isso está muito presente na minha<br />

memória.<br />

Quais os favoritos e por quê?<br />

Eu amo tudo do mar. Passei oito<br />

anos da minha vida sem comer carne<br />

vermelha, além de aves (que não como<br />

até hoje); não troco um bom peixe por<br />

nada. Acho que a boa comida deve<br />

ser simples com a matéria-prima “top”.<br />

Tem coisas que já chegam prontas, tipo<br />

melhor não “inventar” pra não estragar.<br />

Por ex.: um toro (a barriga do atum<br />

gordo). Ou então uma boa fruta. Uma<br />

manga quando é boa, sai da frente, não<br />

tem chef no mundo que crie algo melhor.<br />

E aí a gente sente a presença de Deus.<br />

Mas sou muito fã da França. Acho<br />

que se é pra ser sofisticado, é lá que<br />

rola essa parada. Venho degustando<br />

aquele país há muitos anos e sempre<br />

me surpreendo. Paris é um problema<br />

porque eu tenho sempre uma lista<br />

grande de restaurantes e bistrots que<br />

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