EATI N ’OUT
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Perfil gastronômico<br />
não consigo nunca completar. É que<br />
tem os lugares que não posso deixar<br />
de voltar, tipo o Chez Flottes, pra comer<br />
o aligot, o Benoit, o oeuf mayo do<br />
Georges, e aí quando você se dá conta,<br />
já tá na hora de voltar.<br />
Quais os primeiros vinhos da tua<br />
trajetória à mesa?<br />
Vamos pular os verdadeiros primeiros<br />
né? É que a gente bebeu muita coisa<br />
ruim nos anos 60 (risos). Esquecendo<br />
esse passado de Liebfraumilch e<br />
Forrestier acho que Portugal chegou<br />
primeiro, com vinhos simples e bons,<br />
mas meu coração é da Borgonha. A<br />
primeira vez que bebi um grand cru da<br />
Borgonha foi como descobrir Chet Baker.<br />
Como surgiram os projetos dos<br />
vinhedos na França?<br />
Foi meu sobrinho Bruno que morava<br />
na França que veio com essa ideia.<br />
Ele soube que havia um<br />
produtor lá, perto de Nuits-<br />
Saint-Georges que estava<br />
dividindo em cotas uma parte<br />
da sua produção. Fiquei<br />
curioso e fui ao Chateau<br />
Villars-Fontaine e passei<br />
uma tarde com o Monsieur<br />
Bernard Hudelot bebendo<br />
os vinhos dele. Coisa muito<br />
boa. Vinho de guarda, feito<br />
com carinho e sabedoria por<br />
esse senhor que é professor<br />
desse assunto (vinhos) da<br />
Universidade da Borgonha.<br />
Saí de lá encantado com tudo<br />
que bebi e fui pro hotel. Voltei<br />
no dia seguinte e mandei<br />
preparar o contrato. A gente<br />
nunca deve assinar nada<br />
depois de beber mais de três<br />
taças...(rs).<br />
não é bom aqui. São Paulo muda tudo.<br />
Parece outro país.<br />
Qual considera o grande prato<br />
nacional e por quê?<br />
É difícil a gente definir “nacional”. A<br />
comida baiana, que eu amo, é muito<br />
africana com adaptações. A própria<br />
feijoada também veio dos escravos<br />
africanos. Acho que a comida mineira<br />
tem uma identidade mais original. Então,<br />
fico com a vaca atolada. Costela do boi,<br />
com o aipim desmantelado, tipo um<br />
bobó. Acho que esse é um prato que eu<br />
colocaria pra representar o Brasil.<br />
Quais os últimos achados lá fora?<br />
Houve uma época que guardava<br />
dinheiro pra conhecer os restaurantes<br />
estrelados. Conheci muitos deles, tanto<br />
em Paris quanto no interior da França.<br />
Depois que li “A Goose in Toulouse”,<br />
livro de Mort Rosenblum, aprendi muita<br />
coisa. Esse autor viajou pela França<br />
e entrevistou muitos proprietários<br />
e chefs de restaurantes. Carreguei<br />
de baixo do braço esse livro por um<br />
tempo. Cheguei a ir pra muitas cidades<br />
pequenas como Pont-l’Évêque, aquela<br />
do queijo, só pra jantar no l’Aigle D’Or<br />
e comer os pratos que ele cita no<br />
livro. A partir daí, passei a procurar<br />
esses lugares, off-michelin e Paris tem<br />
muita coisa boa nessa área. O baratin,<br />
por ex., é um bistrot que tem vinhos<br />
naturais na carta e a comida é muito<br />
boa. Tem uma loja de especiarias, a<br />
Epices Roellinger (51 rue Saint Anne)<br />
que tem umas baunilhas especiais<br />
que são amadurecidas na cave da loja.<br />
Vale a pena visitar e levar algumas na<br />
bagagem. Outro lugar que tem sido um<br />
must sempre por lá é a Cave Augé (116<br />
Boulevard Haussmann). Pra quem<br />
gosta de vinhos naturais é um paraíso.<br />
Foto: Ricardo Bhering<br />
O você que tem sentido<br />
falta nos restaurantes<br />
brasileiros?<br />
No Rio não é muito fácil<br />
comer bem. Acabo sempre<br />
nos mesmos restaurantes<br />
porque sei que não vou errar.<br />
O serviço em geral também<br />
Mu Carvalho e a mulher, Ana Zingoni: companheiros na mesa.<br />
16 <strong>EATI</strong> N <strong>’OUT</strong>