29.01.2020 Views

Reflexões: Descomplicando os impostos

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Tributação Empresarial<br />

A Diretiva Antielisão Fiscal:<br />

O que muda no<br />

financiamento às empresas<br />

Bruna Melo<br />

Senior Manager EY, Tax Services<br />

Pedro Fugas<br />

Partner EY, TAX Services<br />

Atualmente, as<br />

empresas que<br />

obtenham empréstim<strong>os</strong><br />

para financiar a sua<br />

atividade podem<br />

deduzir <strong>os</strong> encarg<strong>os</strong><br />

daí decorrentes<br />

(substancialmente, <strong>os</strong><br />

jur<strong>os</strong>) quando apuram<br />

seu lucro tributável<br />

e, assim, reduzir<br />

o montante de IRC<br />

a pagar.<br />

No entanto, desde 2013 que a<br />

dedutibilidade destes encarg<strong>os</strong><br />

associad<strong>os</strong> a<strong>os</strong> financiament<strong>os</strong><br />

obtid<strong>os</strong> tem vindo a ser limitada,<br />

numa dupla tentativa de alargamento<br />

da base tributável d<strong>os</strong><br />

sujeit<strong>os</strong> passiv<strong>os</strong> de IRC, com o<br />

consequente aumento da receita<br />

fiscal, por um lado e, por outro,<br />

de reversão da tendência para<br />

o endividamento excessivo das<br />

empresas portuguesas. Assim, a<br />

dedutibilidade fiscal d<strong>os</strong> gast<strong>os</strong><br />

líquid<strong>os</strong> associad<strong>os</strong> ao financiamento<br />

está hoje limitada a 1 milhão<br />

de Eur<strong>os</strong> ou, se mais elevado,<br />

a 30% do EBITDA (com alguns<br />

ajustament<strong>os</strong> fiscais) da empresa<br />

que regista <strong>os</strong> gast<strong>os</strong>.<br />

Atualmente, ficam de fora desta<br />

limitação <strong>os</strong> jur<strong>os</strong> e outr<strong>os</strong> gast<strong>os</strong><br />

de financiamento incorrid<strong>os</strong> e<br />

que sejam capitalizad<strong>os</strong> no valor<br />

de um ativo que seja adquirido,<br />

produzido ou construído pela<br />

empresa com recurso a capitais<br />

alhei<strong>os</strong>. Veja-se o caso de uma<br />

empresa que obtém um empréstimo<br />

para construir um edifício<br />

(seja um h<strong>os</strong>pital, um armazém<br />

ou um edifício de escritóri<strong>os</strong>). Esta<br />

empresa, de acordo com as regras<br />

contabilísticas aplicáveis, poderá<br />

não registar <strong>os</strong> jur<strong>os</strong> deste empréstimo<br />

como gast<strong>os</strong> em resultad<strong>os</strong><br />

no exercício. Ao invés, estes<br />

jur<strong>os</strong> poderão ser incorporad<strong>os</strong><br />

(capitalizad<strong>os</strong>) no valor de balanço<br />

do ativo em construção até que<br />

ele esteja apto para desempenhar<br />

as suas funções. Esta empresa irá<br />

recuperar a dedutibilidade d<strong>os</strong><br />

jur<strong>os</strong> capitalizad<strong>os</strong> através da depreciação<br />

anual do edifício construído<br />

(que incorporará no valor<br />

bruto do ativo <strong>os</strong> jur<strong>os</strong> capitalizad<strong>os</strong>)<br />

ou aquando do apuramento<br />

de um resultado fiscal futuro por<br />

via de uma hipotética alienação<br />

futura do ativo (seja pela via de<br />

uma redução da mais-valia fiscal<br />

realizada, seja por via de uma<br />

maior men<strong>os</strong>-valia fiscal apurada<br />

em virtude da capitalização d<strong>os</strong><br />

jur<strong>os</strong> no valor de construção do<br />

ativo). Nestes cas<strong>os</strong>, a dedutibilidade<br />

d<strong>os</strong> jur<strong>os</strong> através destas vias<br />

é integral, não sendo aplicáveis<br />

<strong>os</strong> limites que referim<strong>os</strong> acima.<br />

E este é o entendimento da Autoridade<br />

Tributária, que o deixou<br />

claro numa Circular emitida sobre<br />

esta matéria.<br />

Antecipa-se, contudo, uma mudança<br />

deste enquadramento a<br />

partir de 1 de janeiro de 2019, data<br />

limite para que entrem em vigor<br />

em Portugal (e n<strong>os</strong> demais Estad<strong>os</strong><br />

Membr<strong>os</strong> da União Europeia)<br />

as regras que visam transpor a<br />

Diretiva Europeia Antielisão Fiscal.<br />

Embora não seja ainda oficialmente<br />

conhecido o conteúdo destas<br />

regras, antecipa-se que a limitação<br />

à dedutibilidade d<strong>os</strong> gast<strong>os</strong><br />

de financiamento referidas acima<br />

venha a ser igualmente alargada<br />

às situações em que estes gast<strong>os</strong><br />

sejam capitalizad<strong>os</strong> no valor de<br />

balanço de um ativo.<br />

Espera-se que as novas regras<br />

venham a ter um impacto significativo<br />

nas empresas do setor da<br />

construção e promoção imobiliária<br />

ou em empresas concessionárias<br />

que tenham de construir <strong>os</strong><br />

ativ<strong>os</strong> afet<strong>os</strong> à exploração, a que<br />

tipicamente não eram aplicadas<br />

as limitações supra referidas e<br />

que verão assim reduzida a sua<br />

capacidade de deduzir fiscalmente<br />

<strong>os</strong> encarg<strong>os</strong> com <strong>os</strong> empréstim<strong>os</strong><br />

obtid<strong>os</strong>, designadamente<br />

quando estejam em causa níveis<br />

de financiamento elevad<strong>os</strong>.<br />

Passará assim a ser (ainda mais)<br />

importante uma correta estruturação<br />

das operações de financiamento<br />

de forma a assegurar a dedutibilidade<br />

d<strong>os</strong> jur<strong>os</strong> para efeit<strong>os</strong><br />

fiscais.<br />

25

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!