centro de filosofia e ciências humanas - UFRJ
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No entanto, foi mais fácil para todas as crianças escrever corretamente as<br />
palavras do ditado do que ter explicar as razões para as violações cometidas,<br />
principalmente as ligadas aos aspectos gramaticais, que apresentaram especial<br />
dificulda<strong>de</strong> para os alunos. Este já era um resultado esperado, pois elaborar um discurso<br />
sobre <strong>de</strong>terminada ação é uma tarefa muito mais complexa e sofisticada do que praticar<br />
a ação em si. Por isto, mesmo as crianças que acertaram a grafia das palavras do texto<br />
ditado, tinham dificulda<strong>de</strong> para verbalizar explicitamente os conhecimentos ortográficos<br />
que <strong>de</strong>monstraram possuir.<br />
Foi constatada também uma diferença entre as explicações dadas sobre as<br />
correspondências regulares e irregulares da língua. De modo geral, era mais fácil<br />
explicitar a não existência <strong>de</strong> regras para as correspondências irregulares do que<br />
relacionar uma correspondência regular à regra correspon<strong>de</strong>nte. Também po<strong>de</strong>-se<br />
verificar que mesmo regras <strong>de</strong> um mesmo tipo implicavam em níveis distintos <strong>de</strong><br />
complexida<strong>de</strong>. Entre as regras contextuais, por exemplo, era mais difícil para as<br />
crianças explicitar a regra relacionada ao uso do O, U, E e I no final das palavras do que<br />
a relacionada ao uso <strong>de</strong> R e RR. No primeiro caso para conseguir a escrita correta seria<br />
necessário consi<strong>de</strong>rar a tonicida<strong>de</strong> e a posição do fonema <strong>de</strong>ntro da palavra. No caso do<br />
R e RR, o aluno <strong>de</strong>veria utilizar um recurso fonológico aliado à posição da letra na<br />
palavra.<br />
Um outro aspecto interessante observado diz respeito à não utilização <strong>de</strong> termos<br />
gramaticais nas justificativas dadas pelas crianças, apesar <strong>de</strong> ficar claro o princípio<br />
gerativo a que elas se referiam. Leal e Roazzi (2000) ressaltam que a criança que<br />
consegue explicitar verbalmente o seu conhecimento sobre a língua, mesmo que não<br />
fazendo uso <strong>de</strong> terminologia técnica nem <strong>de</strong> explicações muito elaboradas, apresenta<br />
um <strong>de</strong>sempenho melhor na escrita, utilizando as regras ortográficas <strong>de</strong> maneira mais<br />
pertinente e a<strong>de</strong>quada.<br />
Com base no trabalho <strong>de</strong> Morais (1996, 1998, 1999), Cavalcante (2000) realizou<br />
um estudo com o objetivo <strong>de</strong> investigar os distintos níveis <strong>de</strong> conhecimento ortográfico<br />
acessados através <strong>de</strong> três diferentes procedimentos metodológicos, além da provável<br />
influência da escolarida<strong>de</strong> para a realização competente das ativida<strong>de</strong>s propostas.<br />
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