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Delírio do Verbo: O Jornalismo Gonzo e a realidade ... - Flanador

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em e, na minha paranóia, emborquei quatro cálices em seqüência antes de tocar meu plano<br />

adiante. Sim, agora havia um plano, depois da revelação que Acácio me fizera no cinema. A bem<br />

da verdade, não chega a ser bem uma revelação, porque se trata <strong>do</strong> óbvio, apesar de que,<br />

segun<strong>do</strong> Nelson Rodrigues, apenas os profetas enxergam o óbvio.<br />

Buenas, Acácio naquele momento foi o profeta e como profeta pôde fazer a revelação. A<br />

revelação: aconteceu na sala de projeção, logo após a saída <strong>do</strong> produtor, eu com um travo de<br />

remorso ainda na língua, quan<strong>do</strong> Acácio aproximou-se perguntan<strong>do</strong> quem era o sujeito.<br />

Expliquei-lhe a situação, o meu constrangimento e pedi seu conselho. Foi a resposta de Acácio<br />

que me surpreendeu: "Ele quer te comer". Acácio não conseguia segurar o riso, mas<br />

aconselhou-me: "Eu, se fosse tu, dava um jeito de pegar o ingresso e cair fora". Disse isso e me<br />

aban<strong>do</strong>nou com o dilema - não havia o que pensar, segun<strong>do</strong> ele. Disto eu sabia, desde o<br />

momento da revelação, eu já sabia o que fazer. Mas antes tentei me colocar no lugar <strong>do</strong> sujeito<br />

e cheguei mesmo a sentir uma espécie de remorso por abusar <strong>do</strong>s sentimentos de um putinho<br />

apaixona<strong>do</strong>. Agora, no entanto, ao escrever isso eu não consigo deixar de rir. Há! e com certo<br />

escárnio, porque nessa bundinha que mamãe limpou, marmanjo nenhum toca, meu amigo.<br />

Dei umas três voltas no salão <strong>do</strong> centro de eventos até o produtor paulista me perder de vista e<br />

me encaminhei para o setor da organização. Boa parte daquela massa de superoitistas já estava<br />

bêbada e formava uma barricada ao re<strong>do</strong>r <strong>do</strong> quiosque da organização responsável por distribuir<br />

os ingressos. Não havia como chegar até o balcão e, de acor<strong>do</strong> com a informação que o<br />

burburinho transmitia, o número de cortesias programadas para os superoitistas havia si<strong>do</strong><br />

significativamente reduzi<strong>do</strong> e muita gente ia ficar de fora bem na noite da premiação <strong>do</strong> S-8. E<br />

cada vez que chegava um cineasta alternativo, a indignação era a mesma, inclusive na afetação<br />

acentuada pelo vinho.<br />

A cena era comovente: quinze, vinte pessoas com pose de movimento social protestan<strong>do</strong> em<br />

frente a um quiosque no local mais obscuro de to<strong>do</strong> o festival, na companhia apenas <strong>do</strong> pessoal<br />

da organização e da assessoria de imprensa. E dirigiam suas queixas para uma funcionária que,<br />

pela falta de respostas, devia ser a subordinada da subordinada da subordinada: uma<br />

subordinada ao cubo; só faltava distribuírem formulários padrões para recurso. Mesmo sem<br />

muitas esperanças, resolvi atacar uma das assessoras <strong>do</strong> evento. Perguntei pelos ingressos e ela<br />

respondeu que a quota <strong>do</strong> S-8 estava esgotada. Já se virava para ir embora quan<strong>do</strong> eu<br />

resmunguei algo <strong>do</strong> gênero: "fodam-se os superoitistas, eu não sou superoitista". Ela revelou<br />

então que havia uma lista paralela, <strong>do</strong>s "outros convida<strong>do</strong>s". Percebi que os superoitistas não<br />

eram tão convida<strong>do</strong>s quanto os "outros convida<strong>do</strong>s" e lhe pedi que procurasse o meu nome.<br />

Estava eufórico com o ingresso na mão e...<br />

Enfim, acho que foi aí que eu encontrei o Emiliano pela primeira vez. E um amigo que se<br />

encontra em viagem é sempre um refúgio. A minha paranóia apazigou-se um pouco. Se o puto<br />

viesse para cima de mim, o Urbim fazia às vezes de meu namora<strong>do</strong>. Lembro de quan<strong>do</strong> eu o<br />

encontrei: ele estava disfarça<strong>do</strong> de assessor de imprensa, não suspeitava que eu fosse usá-lo<br />

como matéria de memória tanto tempo depois.<br />

From: "Emiliano Urbim" (emiliano.urbim@eai.com.br)<br />

To: "Zani" (beppe.ez@terra.com.br)<br />

Sent: Friday, April 19, 2002 10:29 PM<br />

Subject: texto<br />

Tentei, mas não achei na minha agenda de 1999 - sou desses que carrega consigo uma agenda<br />

de 1999 - a data exata <strong>do</strong> Festival de Cinema de Grama<strong>do</strong> daquele ano. Podia procurar na<br />

Internet, claro, mas aí ia perder a graça. Vou chutar tu<strong>do</strong> aconteceu numa quarta-feira. Tu<strong>do</strong><br />

desde que eu encontrei até desencontrar Giuseppe Zani.<br />

Eu, na esplen<strong>do</strong>rosa forma <strong>do</strong>s meus 20 anos e meio, estava na cidade serrana trabalhan<strong>do</strong><br />

como assessor de imprensa <strong>do</strong> festival. Eu tinha de redigir o boletim informativo para os

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