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Delírio do Verbo: O Jornalismo Gonzo e a realidade ... - Flanador

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excluin<strong>do</strong> os seus fins. Para estabelecer essa relação, o autor recorre ao conceito que<br />

enxerga o gênero como o conjunto de esquemas estéticos disponíveis para o escritor e<br />

inteligíveis pelo leitor de antemão. Tzvetan To<strong>do</strong>rov também não consegue desligar-se<br />

desse enraiza<strong>do</strong> conceito, chaman<strong>do</strong> o gênero de uma “codificação de propriedades<br />

discursivas” (TODOROV, 1980: 48). Para ele, apenas pode-se conceber a transgressão de<br />

uma obra que supera seus limites classificatórios, se pressupormos a existência de uma<br />

norma anterior: “só se detecta transgressão em função de uma regra preexistente”<br />

(TODOROV, 1980: 46). Tal concepção de gênero tem origens no pensamento moderno e,<br />

por isso, não leva em conta o fato de que o texto é um ato de fala constituí<strong>do</strong> de<br />

propriedades idiossincráticas. Destarte, tentar analisar tais propriedades na forma de<br />

gêneros daria lugar a “uma infinita possibilidade de discursos que não encontraria respal<strong>do</strong><br />

num ou em qualquer outro sistema classificatório” (RESENDE, 2002: 29). Portanto, faz-se<br />

necessário que a noção de gênero deva ser revista e ampliada, “de forma a possibilitar uma<br />

variedade tal de discursos que destrua a própria hierarquia imposta aos gêneros e admita<br />

serem eles suscetíveis, não só de misturarem-se, mas de romperem com suas próprias<br />

amarras” (idem: 29-30). A própria Clarice Lispector, que trilhou o híbri<strong>do</strong> caminho<br />

interposto entre os discursos jornalístico e literário, confessa em uma de suas crônicas:<br />

“gêneros já não me interessam” (LISPECTOR, 1992: 375).<br />

Sob tal perspectiva é que recorremos aos autores pós-modernos, pensa<strong>do</strong>res das<br />

teorias contemporâneas, que, por sua vez, repudiam modelos que categorizam gêneros e<br />

linguagens. “A invenção contínua de construções novas, de palavras e de senti<strong>do</strong>s que, no<br />

nível da palavra, é o que faz evoluir a língua” (LYOTARD, 2002: 17). Dessa forma,<br />

Lyotard acaba por contribuir para o atesta<strong>do</strong> de impossibilidade, nos tempos hodiernos, de<br />

estabelecer normas que classifiquem a produção de textos. “Continuar falan<strong>do</strong> em gêneros<br />

seria, ironicamente, generalizar e não entender a diversidade e a proliferação de vozes, hoje<br />

derivadas das várias instituições <strong>do</strong> saber e que ecoam nos diversos tipos de discurso”<br />

(RESENDE, 2002: 33). Desta forma, devemos:<br />

pensá-los enquanto manifestações da fala, enquanto discursos – nunca enquanto gênero<br />

jornalístico, de um la<strong>do</strong>, e gênero literário, de outro, que se fundem num só –, pensá-los<br />

enquanto manifestações detentoras de propriedades discursivas, por vezes, diferentes e<br />

particulares e, por outras, semelhantes (idem: 34).<br />

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