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Delírio do Verbo: O Jornalismo Gonzo e a realidade ... - Flanador

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A crítica fundamental de Thompson quanto ao jornalismo tradicional refere-se ao<br />

ideal de objetividade 5 . Para ele, o discurso calca<strong>do</strong> nos moldes da objetividade tem o intuito<br />

de gerar uma relação de confiança entre os meios de comunicação e o leitor, para convencê-<br />

lo de que suas informações são isentas, livres de ideologias e interesses <strong>do</strong> autor.<br />

No livro Teorias da Comunicação de Massa, de Melvin L. DeFleur e Sandra Ball-<br />

Rokeach, é traça<strong>do</strong> um breve panorama da situação midiática que dá margem à discussão<br />

(ou refutação) <strong>do</strong> conceito de objetividade:<br />

Os códigos éticos de jornalismo ressaltam dever ser “objetivo”, “justo”, “cuida<strong>do</strong>so” e<br />

“factual”. Mas isso é jogo perdi<strong>do</strong> antes de começar a partida. Seletividade e distorções são<br />

produtos de fatores fora <strong>do</strong> controle de repórteres, redatores, editores e diretores. As<br />

descrições <strong>do</strong> “mun<strong>do</strong> lá fora” apresentadas pela imprensa são conseqüências de condições<br />

anteriores, tais como recursos limita<strong>do</strong>s de que os jornalistas dispõem para estudar em<br />

primeira mão qualquer acontecimento. São também decorrência de constrangimentos no<br />

processo de preparar as notícias para se adequarem às exigências de um determina<strong>do</strong><br />

veículo. Espaço e tempo são caros, e to<strong>do</strong>s os relatos de notícias têm que ser sumários. Há<br />

uma inevitável perda de pormenores em qualquer relato que tente focalizar os fatos centrais<br />

e ignore outros. (DEFLEUR, 1993: 280)<br />

O jornalismo gonzo não nega o panorama explicita<strong>do</strong> acima. Pelo contrário, busca<br />

colocá-lo em evidência até o limite extremo. Por trás dessa atitude está a compreensão <strong>do</strong><br />

fato de que a pragmática <strong>do</strong> jornalismo é necessariamente perpassada por limitações, e que,<br />

portanto, torna-se obrigação <strong>do</strong> jornalista deixar isso claro para o leitor. Assim, é da<strong>do</strong> a<br />

este último um papel fundamental na depuração e na construção de significa<strong>do</strong> <strong>do</strong> produto<br />

jornalístico.<br />

Os recursos <strong>do</strong>s quais o gonzo-jornalismo se utiliza com o intuito de ressaltar tal<br />

inexorabilidade da condição noticiosa são muitos. Os textos gonzo são escritos em primeira<br />

pessoa, para enaltecer a existência de um media<strong>do</strong>r entre o fato e o leitor, ao invés de<br />

esconder isso. Em artigo publica<strong>do</strong> na coletânea Ética, Imprensa e Cidadania, Mohammed<br />

Elhajji pressupõe que o discurso jornalístico convencional (em terceira pessoa) constrói<br />

condições para o cerceamento da amplitude de interpretação <strong>do</strong> leitor, impon<strong>do</strong>-lhe uma<br />

5 Link para o Capítulo 3, onde a questão da objetividade jornalística será tratada com mais detalhes.<br />

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