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Delírio do Verbo: O Jornalismo Gonzo e a realidade ... - Flanador

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“Não podemos negar um evidente intercâmbio de recursos e migração de linguagens que<br />

extrapola a mera esfera da relação jornal e literatura. Um intercâmbio, aliás, que deve ser<br />

busca<strong>do</strong>, pois é na fenda entre <strong>do</strong>is sistemas de signos e nas brechas <strong>do</strong> sistema instituí<strong>do</strong><br />

que podem germinar novas estruturas de linguagem (o estereótipo <strong>do</strong> novo nasce sempre no<br />

interior de um mesmo sistema)” (SANTAELLA, 1996: 56).<br />

O jornalismo gonzo, como modelo de produção textual, vai e vem através dessas<br />

brechas, ten<strong>do</strong>, ora um pé no jornalismo, por que tem (ou diz ter) um referente externo, ora<br />

outro pé na literatura, pela subversão da linguagem, pelas figuras metafóricas, pelas<br />

descrições sensoriais, pelas elucubrações, pelos relatos de teor ficcional e pela inserção <strong>do</strong><br />

repórter na matéria, marcan<strong>do</strong> a destituição <strong>do</strong> uso da terceira pessoa, uma das<br />

características básicas <strong>do</strong> jornalismo no senti<strong>do</strong> estrito. Sobre este aspecto, Danton Jobim<br />

afirma que a experiência <strong>do</strong> jornalista e a <strong>do</strong> escritor “não são mun<strong>do</strong>s fecha<strong>do</strong>s;<br />

intercomunicam-se esses <strong>do</strong>is <strong>do</strong>mínios, entre os quais, separa<strong>do</strong>s que estão por uma linha<br />

fluida, haverá sempre uma passagem discreta” (JOBIM, 1992: 45). Desta forma, preceitos<br />

como verdade, <strong>realidade</strong>, atualidade e objetividade, nos textos gonzo, são<br />

“dessacraliza<strong>do</strong>s”, viabilizan<strong>do</strong> a interposição com o contexto ficcional. Assim, quan<strong>do</strong><br />

inserida dentro <strong>do</strong> jornalismo, caberia à literatura estabelecer um recorte da <strong>realidade</strong> de tal<br />

forma que opere como “uma explosão que abra uma <strong>realidade</strong> muito mais ampla” (in<br />

CASTRO & GALENO, 2002: 44-45). Para que o jornalismo transcenda sua atual função<br />

de acompanhar o factual e esvaecer-se junto com ele, torna-se necessário, portanto, recorrer<br />

à literatura, que terá o intuito de “desobstruir a imaginação jornalística e [...] evitar que ela<br />

se transforme em mero exercício retórico <strong>do</strong> cotidiano” (in idem: 107).<br />

O jornalismo gonzo está situa<strong>do</strong> num <strong>do</strong>s “enclaves de invenção” propostos por<br />

Santaella, que “rompem as barreiras entre as artes e entre os signos, subverten<strong>do</strong><br />

estereótipos estruturais e o conseqüente entorpecimento de nosso estar no mun<strong>do</strong>”<br />

(SANTAELLA, 1996: 56-57). Dentre os enclaves que resistem a “rótulos e<br />

engavetamentos”, que impossibilitam diluições imediatas, Santaella cita “poemas que se<br />

transformam em arquiteturas gráficas ou em móbiles táteis”, tal como “prosas que se<br />

recusam prosear” e, um último, que, mesmo sem intencionalidade, pode prover-nos uma<br />

definição provisória <strong>do</strong> que seja gonzo-jornalismo. Mais <strong>do</strong> que uma literatura jornalística<br />

ou alguma espécie de jornalismo literário, o <strong>Jornalismo</strong> <strong>Gonzo</strong> caracteriza-se por escritos<br />

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