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Delírio do Verbo: O Jornalismo Gonzo e a realidade ... - Flanador

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A jogatina também já foi relatada numa reportagem da IRD como um<br />

experimento narcótico. A matéria em questão é Nem John Wayne matou tanto índio na<br />

Cidade Baixa, onde “Car<strong>do</strong>so” e seu procura<strong>do</strong>r aventuram-se numa casa de bingo. O<br />

repórter considera o jogo como causa<strong>do</strong>r de uma espécie de vício químico da mesma<br />

natureza que o vício pelas drogas:<br />

Meu procura<strong>do</strong>r já havia encontra<strong>do</strong> uma mesa vaga e estava senta<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> finalmente o<br />

encontrei. "Caralho, olha só a cara dessas pessoas" ele disse "Um ban<strong>do</strong> de drogaditos". De<br />

fato. As feições de um joga<strong>do</strong>r invetera<strong>do</strong> diferem pouco das de um vicia<strong>do</strong> em drogas.<br />

Aqueles filtetes de suor silencioso, os olhos ricochetean<strong>do</strong>, o metodismo neurótico e a<br />

concentração canina diferenciam os veteranos <strong>do</strong>s novatos. Por alguns segun<strong>do</strong>s me senti<br />

num daqueles prédios aban<strong>do</strong>na<strong>do</strong>s onde os vicia<strong>do</strong>s em crack se reunem pra fumar em<br />

filmes <strong>do</strong> Spike Lee. [...] Me sinto atento como nunca, mente totalmente vazia, sintonizada<br />

apenas nas luzes e em um único tom de voz. O silêncio entre os anúncios numéricos é<br />

imperceptível. Os instantes são picota<strong>do</strong>s e embaralha<strong>do</strong>s novamente numa anfetamínica<br />

linha de tempo. Cada número risca<strong>do</strong> no cartão causa um prazer quase masoquista.<br />

Já na matéria Grama<strong>do</strong> 100% Free... é ao chocolate que é atribuída a condição de<br />

droga, pelo comportamento compulsivo que provoca em seus degusta<strong>do</strong>res. Nesse caso,<br />

além da questão da adicção, outro atributo sensorial é conferi<strong>do</strong> ao chocolate: uma implícita<br />

apologia sensual.<br />

Os chocolates estavam num pequeno balaio de vime e cada vez que eu metia a mão ali,<br />

metia cinco envelopes daqueles no bolso - é de se notar que para essas coisas eu sou<br />

ambidestro. Assim que constituí um pequeno estoque, me dediquei à degustação. Nessas<br />

horas que a gente percebe que o chocolate é uma droga, e o sujeito ao consegui-lo tem<br />

momentos de consumo compulsivo. Principalmente se for desses chocolates de envelope.<br />

Eles são fininhos, <strong>do</strong> formato de uma hóstia, passam quase desapercebi<strong>do</strong>s pela boca, e aí é<br />

que está o perigo. Há também uma explicação semiótica, um certo apelo erótico nestes<br />

chocolates que reside principalmente na forma como estes se assemelham a certos atributos<br />

das camisinhas (ou seria o inverso?). Ambos possuem uma embalagem de envelope<br />

quadrada que deve ser rasgada para ser aberta. Os <strong>do</strong>is também utilizam-se de sabores<br />

similares, quan<strong>do</strong> não idênticos, em seus produtos como morango, abacaxi, laranja, menta<br />

etc., para torná-lo mais atrativo. E, por último, ambos remetem a um peca<strong>do</strong> capital (a gula<br />

ou a luxúria) ao mesmo tempo que se eximem dele: o chocolate, apesar de remeter à gula,<br />

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