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Delírio do Verbo: O Jornalismo Gonzo e a realidade ... - Flanador

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Nem me lembro direito como tu<strong>do</strong> aconteceu. Lembro, sim, da tarde em que eu decidi que<br />

ia pro Close Up Planet, em São Paulo, naquele ano. Ano esse que pode ser 98 mas também<br />

pode ser 99 - não lembro, to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> que foi comigo também já esqueceu e a camiseta da<br />

excursão já desbotou totalmente há mais de muitas lavagens.<br />

Apesar da ressalva temporal, o autor continua a explorar a intercalação de passa<strong>do</strong><br />

e futuro na enunciação. Basea<strong>do</strong> nessa estratégia, chega a realizar um intrigante para<strong>do</strong>xo e<br />

efetua a “previsão” daquilo que já aconteceu: “Mistura EXPROSIVA em sampa: hip hop &<br />

eletronica. Manos & clubbers. Isso vai dar merda”. Alguns parágrafos à frente, a “merda”<br />

realmente acontece, e o vaticínio <strong>do</strong> narra<strong>do</strong>r é concretiza<strong>do</strong>:<br />

Manos & clubbers em Sampa. Barril de pólvora. Mesmo assim, prontamente escorraçamos<br />

os locais que tentaram nos alertar. Na confusão alguém disse que eles queriam nos aplicar<br />

um golpe e naquele momento tu<strong>do</strong> pareceu fazer muito senti<strong>do</strong>. Contu<strong>do</strong>, a chegada de<br />

helicópteros negros e viaturas da ROTA em grande quantidade (acompanha<strong>do</strong>s de gritos<br />

provenientes de um evidente TUMULTO na fila) nos fizeram crer na sinceridade paulistana.<br />

Corremos para um Quartel <strong>do</strong> Exército próximo enquanto víamos uma monstruosa avenida<br />

da não menos monstruosa São Paulo se transformar em um verdadeiro campo de batalha.<br />

Correria, cassetada, cachorro, capuz. Pânico e incerteza. No Quartel, os solda<strong>do</strong>s riam,<br />

brandin<strong>do</strong> seus fuzis. "Eles que tentem entrar aqui".<br />

Outro artifício largamente utiliza<strong>do</strong> na Irmandade Raoul Duke é o de revelar a<br />

incerteza <strong>do</strong> narra<strong>do</strong>r acerca de detalhes <strong>do</strong> fato relata<strong>do</strong>. Em vez de colocar o relato como<br />

substância estanque, arte-final, trabalho concluí<strong>do</strong> e destina<strong>do</strong> inerte à posteridade, o<br />

gonzo-jornalismo prefere situar-se como flui<strong>do</strong>, rascunho, com ênfase no caminho e não no<br />

fim. Na matéria Grama<strong>do</strong> 100% Free 26 [ver anexo 3], Giuseppe Zani perfaz em palavras os<br />

tortuosos caminhos de sua memória. Recorre a lembranças táteis, olfativas, auditivas e<br />

visuais para reconstruir o fato e, no entanto, é traí<strong>do</strong> pelos senti<strong>do</strong>s, ten<strong>do</strong> que efetuar<br />

inúmeras voltas narrativas:<br />

Já faz três anos desde então e, mesmo assim, tenho a sensação de estar recordan<strong>do</strong><br />

acontecimentos de uma noite de excessos. Uma noite que se repete e que demora ainda a<br />

26 O título completo é Grama<strong>do</strong> 100% Free ou Tiran<strong>do</strong> Proveito de um Assédio Homossexual.<br />

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