Delírio do Verbo: O Jornalismo Gonzo e a realidade ... - Flanador
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O filme "Bellini e a Esfinge" é pior <strong>do</strong> que o livro. Eu não li o livro, mas é difícil imaginar<br />
uma história mais mal-contada <strong>do</strong> que nesta adaptação. [...} Eu fiquei imaginan<strong>do</strong> como<br />
faria se tivesse que escrever uma matéria elogian<strong>do</strong> o filme no dia seguinte. Seria foda.<br />
Outro recurso largamente utiliza<strong>do</strong> no jornalismo tradicional é a recorrência às<br />
aspas – que são o lugar de garantia da fidelidade <strong>do</strong> texto – como “comprovação” de uma<br />
informação objetiva e, ao mesmo tempo, como forma de transferir à fonte a<br />
responsabilidade pela autoria <strong>do</strong> enuncia<strong>do</strong>. No entanto, para Barthes, o próprio ato de<br />
escrever pressupõe a transformação <strong>do</strong> Eu (da subjetividade) em fragmento de código, o<br />
que acarreta no para<strong>do</strong>xo de que a linguagem (independente <strong>do</strong> seu referente) passa a ser<br />
institucionalização da subjetividade (BARTHES, 1982: 39).<br />
O uso da terceira pessoa é um sinal de “distanciamento” <strong>do</strong> repórter perante a<br />
notícia, mas que, para<strong>do</strong>xalmente, aproxima o leitor <strong>do</strong> fato. A pretendida ausência de<br />
intermediários entre o acontecimento e o leitor, confeccionada pela linguagem objetiva, faz<br />
pensar “os fatos como contan<strong>do</strong>-se por si próprios. Este é o suposto da objetividade, em que<br />
jornalista, jornal, fontes, condições técnicas, discurso corrente (...) e, enfim, a própria<br />
língua, não interviriam jamais” (GOMES. 2000: 66). A postura “objetiva” e “imparcial” <strong>do</strong><br />
jornalista tem raízes nos preceitos da ciência e filosofia de cunho moderno:<br />
A consolidação deste, como <strong>do</strong>s outros mitos que alimentam o jornalismo, explica-se pelo<br />
entorno histórico da atividade. Ela transforma-se em produto da burguesia que tomou as<br />
rédeas <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> no século passa<strong>do</strong> e que encontrava legitimidade na ciência moderna em<br />
seu auge. Desta forma, o jornalismo incorpora certos fundamentos da ciência de base<br />
positiva que acreditavam na objetividade, no distanciamento frio e imparcial <strong>do</strong> cientista e<br />
em uma razão absoluta. O repórter comporta-se como um cientista, aten<strong>do</strong>-se apenas aos<br />
fatos, tratan<strong>do</strong>-os distanciadamente, com critérios objetivos (HENN, 1996: 20).<br />
A noção daquilo que é “verdadeiro” evoca os termos pelos quais nossa<br />
contemporaneidade tem dimensiona<strong>do</strong> a si mesma ante a impotência das metanarrativas e à<br />
impossibilidade da “verdade”. “Trata-se da oscilação entre verificabilidade, efetividade ou<br />
sucesso visan<strong>do</strong> consenso. É por isso que para o jornalismo seu testemunho é verdadeiro,<br />
poden<strong>do</strong>, portanto, ser argumento pró-consenso” (GOMES, 2000: 53). Mas, o que dizer da<br />
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