Delírio do Verbo: O Jornalismo Gonzo e a realidade ... - Flanador
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epercute” (idem: 151). E esse compromisso existencialista faz da literatura uma mensagem<br />
que busca a imposição, o envolvimento, a militância ativa. A última “forma” da literatura é,<br />
sem dúvida, a mais romântica. Encarar a literatura como ânsia de imortalidade é vê-la<br />
como um caminho de ser eterniza<strong>do</strong> por mérito de suas façanhas. A tal ânsia, “perfilam<br />
aqueles cria<strong>do</strong>res que, esqueci<strong>do</strong>s <strong>do</strong> presente, entregam-se à obra como quem sobe num<br />
veículo que os conduzirá à glória, à mortal imortalidade” (idem: 169). Raul Castagnino, já<br />
no final de seu livro, recorre a Alfonso Reyes para desferir uma definição esquiva, mas, de<br />
certa forma, simbólica, sobre o obscuro ser da literatura:<br />
A literatura não é uma atividade de a<strong>do</strong>rno, mas a expressão mais completa <strong>do</strong> homem.<br />
Todas as demais expressões se referem ao homem enquanto especialista de alguma<br />
atividade singular. Só a literatura expressa o homem, sem distinção nem qualificação<br />
alguma (apud idem: 210).<br />
Terry Eagleton também trilha seus passos rumo a um conceito de literatura. A<br />
primeira idéia discutida por ele consiste na possível definição de literatura como “a escrita<br />
‘imaginativa’, no senti<strong>do</strong> de ficção – escrita que não é literalmente verídica” (EAGLETON,<br />
1997: 1). No entanto, o autor logo desvia desse caminho por julgar que a distinção entre<br />
“fato” e “ficção” é muitas vezes “questionável”. Nesse senti<strong>do</strong>, to<strong>do</strong> e qualquer escrito seria<br />
considera<strong>do</strong> literatura, pois, como vimos, o ato de escrever é media<strong>do</strong> pela linguagem, o<br />
que já impede a apreensão absoluta da <strong>realidade</strong>. Continuan<strong>do</strong> sua jornada, Eagleton<br />
imagina encontrar uma saída ao diferenciar a literatura <strong>do</strong>s outros escritos pelo fato de<br />
empregar a linguagem de maneira peculiar. Segun<strong>do</strong> essa teoria, a literatura é a escrita que<br />
representa uma “violência organizada contra a fala comum”, transforman<strong>do</strong> e<br />
intensifican<strong>do</strong> a linguagem costumeira, de mo<strong>do</strong> a afastar-se sistematicamente da fala<br />
cotidiana. Assim, a literatura seria uma forma de linguagem na qual a tessitura, o ritmo e a<br />
ressonância das palavras superam o seu significa<strong>do</strong>, chaman<strong>do</strong> atenção sobre si mesma e<br />
exibin<strong>do</strong> sua existência material. Segun<strong>do</strong> essa corrente, a especificidade da linguagem<br />
literária seria “o fato de ela ‘deformar’ a linguagem comum de várias maneiras. Sob a<br />
pressão <strong>do</strong>s artifícios literários, a linguagem comum era intensificada, condensada, torcida,<br />
reduzida, ampliada, invertida. Era uma linguagem que se tornara estranha” (idem: 5).<br />
Contu<strong>do</strong>, essa trilha mostrou-se inviável, pois a idéia de que existe uma única linguagem<br />
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