Delírio do Verbo: O Jornalismo Gonzo e a realidade ... - Flanador
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madrugada, me sentin<strong>do</strong> um idiota. Como poderia provar a alguém que, por alguns minutos,<br />
vi toda a Verdade?<br />
O rompimento das barreiras entre o factual e o ficcional e as conseqüências<br />
advindas desse fato remetem-nos a efetuar uma análise da produção textual dentro <strong>do</strong><br />
âmbito da pós-modernidade. O hibridismo, a ironia manifesta, a auto-reflexividade, a<br />
consciência sobre seu próprio fazer e a desconfiança acerca da verdade, são alguns <strong>do</strong>s<br />
fatores <strong>do</strong> gonzo-jornalismo que corroboram com a idéia de que, antes de tu<strong>do</strong>, o<br />
<strong>Jornalismo</strong> <strong>Gonzo</strong> é um fenômeno da idade pós-moderna, não apenas temporalmente, mas<br />
por adequar-se (im)perfeitamente a seus conceitos.<br />
A obra de arte pós-moderna típica é arbitrária, eclética, híbrida, descentralizada, fluida e<br />
descontínua, lembra o pastiche. Fiel aos princípios da pós-modernidade, rejeita a<br />
profundidade metafísica em favor de uma espécie de superficialidade forjada, jocosidade e<br />
falta de afeto; é uma arte de prazeres, superfícies e identidades fugazes. Por desconfiar de<br />
todas as verdades e certezas estabelecidas, sua forma é irônica, e sua epistemologia<br />
relativista e cética. Por rejeitar toda tentativa de refletir uma <strong>realidade</strong> estável para além de<br />
si mesma, existe, de mo<strong>do</strong> autoconsciente, no nível da forma ou da linguagem. Por saber<br />
que suas próprias ficções são infundadas e gratuitas, pode atingir uma espécie de<br />
autenticidade negativa apenas ao alardear sua irônica consciência desse fato,<br />
pervertidamente chaman<strong>do</strong> atenção para seu próprio status de artifício construí<strong>do</strong>.<br />
Impaciente com toda identidade isolada, e desconfiada da noção de origens absolutas,<br />
chama atenção para sua própria natureza “intertextual”, sua reciclagem paródica de outras<br />
obras que, por sua vez, nada mais são que o resulta<strong>do</strong> de tal reciclagem (EAGLETON,<br />
1997: 318).<br />
A assumidamente inverossímil matéria Et de Vagina [ver anexo 5], de autoria de<br />
Paula Pó, percorre algumas das trilhas que passam pelo conceito de obra “literária” pós-<br />
moderna. pois “os valores associa<strong>do</strong>s com a ficção ou narrativa, a abertura, a extensão no<br />
tempo, a impureza genérica, passaram a ter o <strong>do</strong>mínio na teoria literária pós-moderna”<br />
(CONNOR, 1996: 103). Por outro la<strong>do</strong>, pode-se observar no excerto abaixo recursos como:<br />
descrição da condição psicológica (o que pode justificar a existência de certos elementos<br />
ultra-reais na matéria), análise sobre a própria atividade jornalística, ironia, influência de<br />
estandartes da cultura de massa como ficção científica e pornografia, indicações<br />
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