Delírio do Verbo: O Jornalismo Gonzo e a realidade ... - Flanador
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acontecimentos ao longo <strong>do</strong> tempo” (SERVA, 2001: 126). Para continuar com essa lógica<br />
de produção desenfreada de notícias, os meios acabam por “fazer o tempo andar mesmo<br />
que ele se recuse” (idem: 129), o que gera fatos sem “gravidez”, sem história, sem<br />
memória. O alemão Michael Kunczik propõe uma “abolição” da escravidão à atualidade, o<br />
que possibilitaria um jornalismo mais responsável e independente:<br />
Seria muito mais útil para a realização da autonomia profissional reduzir a importância da<br />
atualidade no trabalho jornalístico. Caso se considerem valiosas somente as notícias de<br />
atualidade, as notícias cuida<strong>do</strong>sas, complexas e bem-investigadas continuariam sen<strong>do</strong> a<br />
exceção. A escravidão à atualidade prejudica todas as outras normas jornalísticas, como a<br />
investigação cuida<strong>do</strong>sa, e aumenta a probabilidade da crítica leiga. A obsessão pela<br />
atualidade faz também com que os jornalistas sejam manipuláveis por meio de pseu<strong>do</strong>-<br />
eventos, forja<strong>do</strong>s com o propósito único de atrair a cobertura <strong>do</strong>s meios de comunicação<br />
(KUNCZIK, 2001: 52).<br />
Ignácio Ramonet, por sua vez, escavou a etimologia da palavra jornalista que,<br />
nesses termos, significa “analista de um dia”. O que ocorre é que a transmissão instantânea<br />
da informação e o volume diluviano de notícias encurtaram a periodicidade de “análise” <strong>do</strong><br />
jornalista, que passa a ser analista não mais de um dia, mas de um instante. Para ele, o<br />
jornalista deveria chamar-se um “instantaneísta” ou um “imediatista”. Todavia, essa análise<br />
<strong>do</strong> instante configura-se como uma tarefa impossível, pois:<br />
Com o momento imediato <strong>do</strong> evento, nenhuma distância – precisamente aquela distância<br />
indispensável à análise – é possível. Por ora, o jornalista tem afinal cada vez mais a<br />
tendência de tornar-se um simples vínculo. Ele é o fio que permite conectar o evento com<br />
sua difusão (RAMONET, 1999:74).<br />
O fato é que também a Irmandade Raoul Duke está passível de ser acometida por<br />
to<strong>do</strong>s os falibilismos <strong>do</strong> jornalismo tradicional. Portanto, o jornalismo gonzo não escapa às<br />
pressões <strong>do</strong> tempo, apesar <strong>do</strong> fato de que este fator incide na IRD de mo<strong>do</strong> mais oblíquo, já<br />
que a periodicidade média de atualização <strong>do</strong> site é superior a um mês. Na reportagem<br />
Inferno Sangrento em São Leopol<strong>do</strong>, o repórter identifica<strong>do</strong> apenas como Colabora<strong>do</strong>r 001<br />
revela: “O Car<strong>do</strong>so tinha me dito ‘fecho até dia 26/04 a próxima edição’. O prazo me<br />
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