Delírio do Verbo: O Jornalismo Gonzo e a realidade ... - Flanador
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4. – Conclusão<br />
A multiplicidade de vozes e tipos de discursos presentes no seio da Irmandade<br />
Raoul Duke impossibilita-nos de delimitar uma cercania que compreenda a essência de<br />
todas as suas manifestações. É, portanto, imprescindível ter a noção de que o <strong>Jornalismo</strong><br />
<strong>Gonzo</strong> pratica<strong>do</strong> por ela não constitui um gênero, quer seja literário ou jornalístico, com<br />
limites estabeleci<strong>do</strong>s ou normas que de alguma forma rejam sua enunciação, visto que a<br />
própria concepção de gênero revela-se anacrônica quan<strong>do</strong> situada dentro de um referencial<br />
teórico calca<strong>do</strong> no pensamento pós-moderno.<br />
Os escritos de Hunter Thompson são a fonte primeira de inspiração nos textos da<br />
IRD, mas, dependen<strong>do</strong> <strong>do</strong> autor, pode ocorrer um distanciamento maior ou menor em<br />
relação ao estilo concebi<strong>do</strong> por Thompson. Esse fator não desvirtua de mo<strong>do</strong> algum o<br />
caráter fundamental <strong>do</strong> gonzo-jornalismo, já que este permite, ou melhor, pressupõe, a<br />
inoculação de elementos da constituição individual <strong>do</strong> repórter. É neste aspecto que reside o<br />
heterogêneo manancial de bra<strong>do</strong>s <strong>do</strong> gonzo. Como ele é condiciona<strong>do</strong> pela subjetividade,<br />
pode assumir camaleonicamente diversas formas, dependen<strong>do</strong> <strong>do</strong> contexto de sua apuração,<br />
<strong>do</strong>s recursos lingüísticos à disposição <strong>do</strong> autor e <strong>do</strong> universo idiossincrático da mente <strong>do</strong><br />
repórter.<br />
O gonzo poderia ser denomina<strong>do</strong> jornalismo pelo seu aspecto pragmático, pelo<br />
fato de propor a si mesmo como jornalismo. Por outro la<strong>do</strong>, o gonzo também poderia ser<br />
situa<strong>do</strong> na esfera da literatura pelo uso que faz da linguagem ao assumidamente colocá-la<br />
numa esfera exterior à concretude <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. No entanto, o gonzo não é nenhum <strong>do</strong>is, nem<br />
literatura nem jornalismo. É, antes de tu<strong>do</strong>, discurso. Um discurso permea<strong>do</strong> por subsídios<br />
tanto da prática jornalística, como <strong>do</strong> fazer literário. <strong>Gonzo</strong> é discurso, palavra em curso,<br />
foz em delta, que recebe águas de inúmeras ramificações, embocadura de torrentes diversas<br />
de produção textual.<br />
Navegar pelas correntes <strong>do</strong> gonzo significa poder sair <strong>do</strong> lago de águas paradas <strong>do</strong><br />
jornalismo e adentrar num mar de incertezas, revolto, vivo. Desvencilhar-se da âncora<br />
imposta pela objetividade jornalística é o principal fator de autonomia <strong>do</strong> gonzo-jornalismo,<br />
que procura, não alcançar a <strong>realidade</strong>, mas mostrar que esta é uma utopia e, como meta<br />
utópica, deve ser perseguida, mas não pelos méto<strong>do</strong>s convencionais, funda<strong>do</strong>s sobre bases<br />
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