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Delírio do Verbo: O Jornalismo Gonzo e a realidade ... - Flanador

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leitor. A prisão emocional afasta o leitor da razão e da própria <strong>realidade</strong> a qual o jornalismo<br />

diz ser referencial” (SILVA, 1997: 122). Sob este aspecto, o jornalismo passa a ser um<br />

“produtor de mun<strong>do</strong>s” ao ampliar micro-<strong>realidade</strong>s, a despeito da esfera macro-social:<br />

O mun<strong>do</strong> fictício cria<strong>do</strong> pelos media coloca novos personagens em conflito, personagens<br />

esses que não têm enraizada no social nenhuma relevância, cujos conflitos são apenas<br />

discrepâncias forjadas. Diante da diluição, <strong>do</strong> enfraquecimento <strong>do</strong>s conteú<strong>do</strong>s no plano<br />

macro-social, o jornalismo para sobreviver apela para a indústria imaginária de notícias.<br />

Criam-se fatos, forjam-se notícias, estimulam-se polêmicas fictícias, constrói-se o conflito<br />

“em laboratório”. O estúdio de TV, a redação de jornal, deixam de ser meios de transmissão<br />

de fatos e tornam-se eles mesmos os produtores de mun<strong>do</strong>s (MARCONDES FILHO, 1993:<br />

63).<br />

Mas a questão é mais complexa <strong>do</strong> que parece. Visto dessa forma, o jornalismo<br />

apenas não cumpriria sua função-mor de captar a “<strong>realidade</strong> tal como ela é” devi<strong>do</strong> a um<br />

mau uso de suas potencialidades. Porém, a partir <strong>do</strong> momento em que a <strong>realidade</strong> é<br />

mediada pelo universo da linguagem, não se pode atingi-la diretamente. “A essência <strong>do</strong><br />

mun<strong>do</strong> não pode ser expressa pela linguagem” (SILVA, 1997: 130).<br />

Toda notícia, o acontecer jornalístico, é uma proposição gramatical. A proposição<br />

jornalística não tem mais uma relação alguma com os acontecimentos que diz se referir. A<br />

proposição jornalística trabalha com símbolos (signos) e a compreensão (usos) que o<br />

público faz deles. Só que os significa<strong>do</strong>s (usos) das palavras, conceitos, imagens, modelos,<br />

paradigmas são padroniza<strong>do</strong>s, unifica<strong>do</strong>s, dentro de uma uniformidade que nada mais diz ou<br />

mostra. Restam as sensações e com elas o enfeitiçamento da <strong>realidade</strong> (idem: 122).<br />

“Como a linguagem é o próprio ar que respiro, jamais poderei ter uma<br />

significação ou experiência pura e sem deformações” (EAGLETON, 1997: 179). Barthes<br />

corrobora com a concepção de que a fala, o verbo, é incapaz de conter a imensa<br />

significância <strong>do</strong> “mun<strong>do</strong> real”. Para ele, “a linguagem nunca pode dizer o mun<strong>do</strong>, pois ao<br />

dizê-lo está crian<strong>do</strong> um outro mun<strong>do</strong>, um mun<strong>do</strong> em segun<strong>do</strong> grau regi<strong>do</strong> por leis próprias<br />

que são as da própria linguagem” (BARTHES, 1982: 9). Desse mo<strong>do</strong>, o próprio ato de<br />

expressar-se por meio da linguagem já pressupõe a criação de um mun<strong>do</strong> “paralelo”, cujo<br />

maior atributo é não ser idêntico ao mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> qual ele deveria ser o espelho. “O relato<br />

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