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Delírio do Verbo: O Jornalismo Gonzo e a realidade ... - Flanador

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linearidade ou platitude inicial, para abrir um meio vivo no qual possa se des<strong>do</strong>brar o<br />

senti<strong>do</strong>. Este, portanto, não preexiste à leitura, e por isso é necessário percorrê-lo,<br />

cartografá-lo, para que o fabriquemos, o atualizemos.<br />

Mas enquanto o <strong>do</strong>bramos sobre si mesmo, produzin<strong>do</strong> assim sua relação consigo próprio,<br />

sua vida autônoma, sua aura semântica, relacionamos também o texto a outros textos, a<br />

outros discursos, a imagens, a afetos, a toda a imensa reserva flutuante de desejos e de<br />

signos que nos constitui. Aqui, não é mais a unidade <strong>do</strong> texto que está em jogo, mas a<br />

construção de si, construção sempre a refazer, inacabada. Não é mais o senti<strong>do</strong> <strong>do</strong> texto que<br />

nos ocupa, mas a direção e a elaboração <strong>do</strong> nosso pensamento, a precisão de nossa imagem<br />

no mun<strong>do</strong>, a culminação de nossos projetos, o despertar de nossos prazeres, o fio de nossos<br />

sonhos (LÉVY, 1996: 36).<br />

Desta forma, a partir <strong>do</strong> hipertexto, “toda leitura tornou-se um ato de escrita”<br />

(idem: 46). Imerso no emaranhar de teias <strong>do</strong> ciberespaço, o texto assume a condição<br />

metonímica de pedaço, estilhaço de um to<strong>do</strong> incomensurável. É a interface que coloca<br />

nossos senti<strong>do</strong>s em contato com um universo <strong>do</strong> qual o texto não é mais <strong>do</strong> que uma mera<br />

partícula, restrito ao seu papel de interconectar-se com outros textos, desprezan<strong>do</strong> a idéia de<br />

totalidade em si mesmo. Em suma, seja qual for o texto, e em qual con-texto apresenta-se<br />

ou oculta-se, ele é senão “o fragmento talvez ignora<strong>do</strong> <strong>do</strong> hipertexto móvel que o envolve,<br />

o conecta a outros textos e serve como media<strong>do</strong>r ou meio para uma comunicação recíproca,<br />

interativa, interrompida” (LÉVY, 2001: 118). No entanto, a fronteira da autoria de um texto<br />

é por demais tênue, fugidia. Não existe mais como conceber um texto discernível e<br />

individualizável, “mas apenas texto, assim como não há uma água e uma areia, mas apenas<br />

água e areia” (LÉVY, 1996: 48). O texto passa agora para a categoria <strong>do</strong>s substantivos<br />

incontáveis...<br />

Ainda sobre a questão da autoria, Lévy brinca com o conceito de hipertexto,<br />

desvinculan<strong>do</strong>-o da obrigatoriedade de imbricação com a questão <strong>do</strong> ciberespaço e coloca-o<br />

numa esfera transcendente, quiçá divina, ao remeter-se à Bíblia, como o “experimento”<br />

pioneiro, desbrava<strong>do</strong>r, o bandeirante da floresta <strong>do</strong> hipertexto:<br />

A Bíblia é um outro caso exemplar de uma obra maior <strong>do</strong> fun<strong>do</strong> espiritual e poético da<br />

humanidade, à qual, no entanto, não podemos atribuir um autor. Precursor <strong>do</strong> hipertexto, sua<br />

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