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Delírio do Verbo: O Jornalismo Gonzo e a realidade ... - Flanador

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tradicional, como atividades da contracultura e drogas, por exemplo. O gonzo-jornalismo<br />

“não é anti-Governo, mas sim anti-jornalismo”, define Othitis (1994c).<br />

A autora Christine Othitis ressalta mais algumas características essenciais no<br />

gonzo-jornalismo, tais como a pre<strong>do</strong>minância <strong>do</strong>s temas sexo, violência, drogas, esporte e<br />

política; o uso de citações como epígrafe; tendência de desviar <strong>do</strong> assunto inicial;<br />

averiguação minuciosa das situações e o uso de sarcasmo e vulgaridade como recursos<br />

humorísticos (OTHITIS, 1994c). No entanto, a principal característica <strong>do</strong> gonzo-jornalismo<br />

é “a ênfase que dá à experiência pessoal direta. (...) Descrever-se descreven<strong>do</strong>, fazer parte<br />

da pauta, de alguma maneira” (FERNANDES, 2002a). Para isso, o gonzo usa o “eu” como<br />

ponto de partida: não basta transcrever em palavras os pormenores de um fato, é necessário<br />

participar de alguma maneira de tal situação, de mo<strong>do</strong> a nela interferir e, só então, tecer o<br />

relato de sua experiência individual. Dentre os vários personagens – ativos ou figurantes –<br />

dessa história, o narra<strong>do</strong>r é o personagem primeiro, o proto-personagem, que suga e filtra a<br />

to<strong>do</strong>s, a seu bel prazer. Por isso, não há uma fôrma, um modelo de jornalismo gonzo. Ele é<br />

a síntese das idiossincrasias, levadas ao extremo até o limite <strong>do</strong> absur<strong>do</strong>.<br />

Isto posto, nota-se que a contraposição <strong>do</strong> <strong>Jornalismo</strong> <strong>Gonzo</strong> frente ao jornalismo<br />

mainstream 6 dá-se sob um espectro multidirecional. A subversão <strong>do</strong> gonzo costuma ocorrer<br />

desde o momento da escolha das pautas até o mo<strong>do</strong> de tratamento <strong>do</strong> material jornalístico.<br />

Destarte, um jornalista gonzo não iria cobrir, por exemplo, uma solenidade governamental.<br />

Se o fizesse, todavia, tentaria interferir na cerimônia até interrompê-la, ou de lá ser expulso;<br />

ou, pelo menos, noticiá-la-ia sob um ponto de vista inusita<strong>do</strong>, como ressaltar (ou inventar)<br />

que o assessor de finanças <strong>do</strong> Governa<strong>do</strong>r estava com a braguilha aberta, fazer notar a<br />

apatia <strong>do</strong>s presentes, ou estipular uma possível ressaca <strong>do</strong> Governa<strong>do</strong>r como sen<strong>do</strong> o<br />

motivo de sua ausência em plena manhã de uma segunda-feira. O jornalista gonzo também<br />

poderia, antes mesmo de entrar na “solenidade”, parar para conversar com o porteiro e<br />

dividir com ele um litro de aguardente durante uma prosa onde os mais escatológicos<br />

detalhes da personalidade <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is ébrios seriam evidencia<strong>do</strong>s, o que seria minuciosamente<br />

relata<strong>do</strong> na matéria, a despeito da realização da solenidade.<br />

6 Termo referencia<strong>do</strong> a manifestações culturais e sociais de tendência <strong>do</strong>minante.<br />

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