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Delírio do Verbo: O Jornalismo Gonzo e a realidade ... - Flanador

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3.4.1 – <strong>Jornalismo</strong> alucina<strong>do</strong>: anfetaminas, futebol, chocolate e outras drogas<br />

Assim como vejo araras de neon pairan<strong>do</strong> sob a minha cabeça e faço<br />

com que o balançar <strong>do</strong> meu de<strong>do</strong> produza uma intensa luz purpúrea,<br />

cavalos de fogo e elefantes de arame correm la<strong>do</strong> a la<strong>do</strong> com o<br />

ônibus. No horizonte, robôs imensos se levantam da terra e começam<br />

a pisotear as cidades próximas. Pessoas feitas de bola de gude se<br />

materializam e se dissolvem na minha frente. Vejo rostos conheci<strong>do</strong>s<br />

na penumbra, me encaran<strong>do</strong> com inexplicável raiva - "o que foi que eu<br />

fiz?". A morte viaja grudada no teto <strong>do</strong> bus mas, por algum motivo,<br />

não tenho me<strong>do</strong>. – André “Car<strong>do</strong>so”.<br />

A maioria <strong>do</strong>s aspectos <strong>do</strong> gonzo-jornalismo relata<strong>do</strong>s aqui, além da crítica<br />

conceitual ao jornalismo tradicional, situa-se no âmbito <strong>do</strong> uso da linguagem. Muitas das<br />

características <strong>do</strong> <strong>Jornalismo</strong> <strong>Gonzo</strong> vistas até então (inserção <strong>do</strong> repórter na matéria,<br />

linguagem subjetiva, lapsos ortográficos, subversão da linguagem padrão, confusão <strong>do</strong> real<br />

com o factual etc.) podem ser encontradas em outros tipos de escritos. No entanto, o<br />

principal diferencial <strong>do</strong> gonzo frente a outros estilos jornalísticos é sua estreita relação com<br />

o mun<strong>do</strong> das drogas e o seu uso como “combustível” na geração de pautas, apesar <strong>do</strong> fato<br />

de que, na literatura contemporânea, alguns nomes como o escritor beatnik Jack Kerouak e<br />

Charles Bukowski já beberam da fonte alucinógena e relataram isso em seus escritos.<br />

Na Irmandade Raoul Duke, a referência ao uso de drogas por parte <strong>do</strong> jornalista<br />

não é uma regra, mas é fator recorrente em seus textos. A menção às drogas na IRD faz-se<br />

de mo<strong>do</strong> multidirecional: é grande a variedade de substâncias relatadas nos escritos, assim<br />

como são várias as suas formas de combinação. Da mesma forma, os efeitos físicos,<br />

sensoriais, psicológicos e comportamentais geram produções textuais semi-míticas (ver<br />

epígrafe), fora o fato de constituírem parte considerável <strong>do</strong> conteú<strong>do</strong> das reportagens. Na<br />

matéria Close Up Planet..., o repórter submete-se como cobaia de uma experiência<br />

psicodélica:<br />

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