Delírio do Verbo: O Jornalismo Gonzo e a realidade ... - Flanador
Delírio do Verbo: O Jornalismo Gonzo e a realidade ... - Flanador
Delírio do Verbo: O Jornalismo Gonzo e a realidade ... - Flanador
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
óbvia e imediata”, como uma rebelião no campus, um protesto contra a guerra ou uma<br />
manifestação contra a injustiça racial e talvez não faça nada além de “brandir uma<br />
minúscula bandeira contra as desumanidades da tecnocracia” (ROSZAK, 1972: 60).<br />
E é justamente a dita tecnocracia que representa o papel de principal antagonista<br />
da contracultura <strong>do</strong>s anos sessenta e setenta. Roszak ressalta a existência de “perigos” no<br />
embate contra a tecnocracia, devi<strong>do</strong> à sua menor visibilidade perante os fenômenos sociais.<br />
A esse embate, ele denominou de “a luta suprema”. Mas quem é esse inimigo invisível? A<br />
tecnocracia é a “forma social na qual uma sociedade industrial atinge o ápice de sua<br />
integração organizacional” (idem: 19). É a aplicação prática <strong>do</strong>s conceitos de<br />
modernização, atualização, racionalização e planejamento. Para legitimar-se, a tecnocracia<br />
utiliza-se de “imperativos incontestáveis” como a procura de eficiência, a coordenação em<br />
grande escala de homens e recursos, a segurança social, níveis cada vez maiores de<br />
opulência e manifestações crescentes de força humana coletiva. Estabelecen<strong>do</strong> suas<br />
relações desta forma, ela age com o intuito de “eliminar as brechas e fissuras anacrônicas<br />
da sociedade industrial” (idem: 19).<br />
Sob o regime da tecnocracia, tu<strong>do</strong> tende a tornar-se eminentemente técnico e<br />
analisável apenas por especialistas autoriza<strong>do</strong>s, com o intuito de “eliminar os defeitos que<br />
sua determinação pessoal introduz no projeto perfeito da organização” (idem: 20). Destarte,<br />
o conceito de tecnocracia pode ser condensa<strong>do</strong> na “sociedade na qual os governantes<br />
justificam-se invocan<strong>do</strong> especialistas técnicos, que, por sua vez, justificam-se invocan<strong>do</strong><br />
formas científicas de conhecimento” (idem: 21). O “grande segre<strong>do</strong>” da tecnocracia está em<br />
sua capacidade de convencer a sociedade de algumas premissas. Por exemplo, ao afirmar<br />
que “as necessidades vitais <strong>do</strong> homem são de caráter puramente técnico”, to<strong>do</strong>s os<br />
requisitos da condição humana passam a submeter-se à análise formal, engendrada por<br />
especialistas, detentores de conhecimentos científicos, e por isso, impenetráveis. Conclui-se<br />
que, na tecnocracia, cabe ao especialista descobrir nossos desejos e necessidades e provê-<br />
los com prazeres e soluções. Mas, para isso, a tecnocracia precisa reduzir o “mun<strong>do</strong> real” a<br />
uma esfera que possa ser abraçada por ela. E é neste ponto que reside o seu principal<br />
artifício:<br />
A estratégia fundamental da tecnocracia: reduzir a vida àquele padrão de “normalidade”<br />
apropria<strong>do</strong> à gestão da especialização técnica, e depois, segun<strong>do</strong> aquele critério espúrio e<br />
41