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Delírio do Verbo: O Jornalismo Gonzo e a realidade ... - Flanador

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desta explosão uma impressão pessimista: ninguém fala todas essas línguas, elas não<br />

possuem uma metalíngua-universal, o projeto <strong>do</strong> sistema-sujeito é um fracasso, o da<br />

emancipação nada tem a ver com a ciência, está se mergulha<strong>do</strong> no positivismo de tal ou qual<br />

conhecimento particular, os sábios tornaram-se cientistas, as reduzidas tarefas de pesquisa<br />

tornaram-se tarefas fragmentárias que ninguém <strong>do</strong>mina; e, <strong>do</strong> seu la<strong>do</strong>, a filosofia<br />

especulativa ou humanista nada mais tem a fazer senão romper com suas funções de<br />

legitimação. (LYOTARD, 2002: 73-74)<br />

Convém admitir, entretanto, que o panorama pós-moderno feito por Lyotard e,<br />

conseqüentemente, sua relação com a modernidade, embora preciso, carece de<br />

des<strong>do</strong>bramentos. Como toda obra seminal, A Condição Pós-Moderna fornece-nos bases<br />

para uma reflexão mais aprofundada, mas não a executa. Isto posto, cabe lançar alguma luz<br />

(não Luzes) na discussão acerca da passagem da modernidade para a pós-modernidade.<br />

Tal como afirmou Baudelaire no artigo O pintor da vida moderna, publica<strong>do</strong><br />

originalmente em 1863, a modernidade é composta de duas “metades”: uma comporta o<br />

“transitório, o fugidio, o contingente” e a outra “o eterno e o imutável” (BAUDELAIRE,<br />

1993: 21). Para David Harvey, a definição baudelairiana de modernidade tece o pano de<br />

fun<strong>do</strong> a partir <strong>do</strong> qual ele irá fazer a passagem à pós-modernidade. Tal passagem não é<br />

brusca e também não pressupõe uma ruptura com to<strong>do</strong>s os conceitos da modernidade.<br />

Começo com o que parece ser o fato mais espantoso sobre o pós-modernismo: sua total<br />

aceitação <strong>do</strong> efêmero, <strong>do</strong> fragmentário, <strong>do</strong> descontínuo e <strong>do</strong> caótico que formavam uma<br />

metade <strong>do</strong> conceito baudelairiano de modernidade. Mas o pós-modernismo responde a isso<br />

de uma maneira bem particular; ele não tenta transcendê-lo, opor-se a ele e sequer definir os<br />

elementos “eternos e imutáveis” que poderiam estar conti<strong>do</strong>s nele. O pós-modernismo nada,<br />

e até se espoja, nas fragmentárias e caóticas correntes da mudança, como se isso fosse tu<strong>do</strong><br />

o que existisse (HARVEY, 1992: 49).<br />

O pós-modernismo apega-se a uma “metade” da modernidade, enquanto aceita a<br />

impossibilidade de conceber a verdadeira dimensão da outra metade. Assume-se que o caos<br />

da vida contemporânea não pode ser compreendi<strong>do</strong> por uma linha de pensamento racional,<br />

pois aquela não obedece a leis estáveis, estanques. De certa forma, Fredric Jameson<br />

compactua com a visão de Harvey ao dizer que o moderno apenas mu<strong>do</strong>u de nome por não<br />

conseguir absorver a si mesmo.<br />

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