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Delírio do Verbo: O Jornalismo Gonzo e a realidade ... - Flanador

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perceber por si mesmo. Embora julguemos essa perspectiva redutora para designar o termo<br />

literatura como um to<strong>do</strong>, ele é o mais adequa<strong>do</strong> para estabelecer uma analogia entre o<br />

jornalismo e a literatura, duas formas de discurso distintas em essência, mas inter-<br />

relacionadas por natureza. Destarte:<br />

A idéia de literatura não é a mensagem que você recebe; é um significa<strong>do</strong> que você acolhe a<br />

mais, marginalmente; você sente-o flutuar vagamente numa zona paróptica; o que você<br />

consome, são as unidades, as relações, em suma, as palavras e a sintaxe <strong>do</strong> primeiro sistema<br />

(que é a língua); e, no entanto, o ser desse discurso que você lê (o seu “real”), é mesmo a<br />

literatura, e não a ane<strong>do</strong>ta que ele lhe transmite (BARTHES, 1977: 361-362).<br />

Paul de Man segue no mesmo caminho de Barthes e define a “essência” da<br />

literatura no fato de que toda linguagem é inevitavelmente metafórica, operan<strong>do</strong> por tropos<br />

e figuras; e que seria um engano acreditar que qualquer linguagem é “literalmente literal”.<br />

Na literatura, o leitor se vê a flutuar no vácuo entre um significa<strong>do</strong> “literal” e outro,<br />

figurativo. Posto à gravidade zero, ele constata-se incapaz de efetuar uma escolha definitiva<br />

entre os <strong>do</strong>is senti<strong>do</strong>s e acaba sen<strong>do</strong> “lança<strong>do</strong> a um abismo lingüístico sem fun<strong>do</strong> por um<br />

texto que se tornou ilegível” (EAGLETON, 1997: 200).<br />

3.3 – Literatura jornalística ou jornalismo literário?<br />

“O jornalista fere no peito o escritor. O escritor repele o jornalista,<br />

por esmagá-lo, por obrigá-lo a renascer quase sempre de um mesmo<br />

patamar. Feliz daquele que, nesse embate, consegue servir, e bem, aos<br />

<strong>do</strong>is senhores”. - Bernar<strong>do</strong> Ajzenberg<br />

Vimos que o <strong>Jornalismo</strong> <strong>Gonzo</strong> não pode, a princípio, ser enquadra<strong>do</strong> em<br />

nenhuma das definições tradicionais de jornalismo e literatura. Por ser permea<strong>do</strong> de<br />

elementos concernentes aos <strong>do</strong>is âmbitos, a análise <strong>do</strong> gonzo-jornalismo não pode ser<br />

realizada sem se realizar um estu<strong>do</strong> acerca das relações entre eles. Atribui-se ao poeta e<br />

ensaísta Salva<strong>do</strong>r Novo, a seguinte frase: “Não se pode alternar o santo ministério da<br />

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