Delírio do Verbo: O Jornalismo Gonzo e a realidade ... - Flanador
Delírio do Verbo: O Jornalismo Gonzo e a realidade ... - Flanador
Delírio do Verbo: O Jornalismo Gonzo e a realidade ... - Flanador
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
movimentos contraculturais (assim como to<strong>do</strong>s os outros elementos culturais que<br />
alcançaram certa evidência), com suas características exóticas e suas diferenças gritantes,<br />
foram naturalmente absorvi<strong>do</strong>s, incorpora<strong>do</strong>s pela cultura que tanto combatera. “A<br />
contracultura atacou de fora o sistema de consumo e (...) foi assimilada pelo próprio<br />
sistema” (ARIAS, 1979: 139). Philadelpho Menezes também traz à tona esse processo que,<br />
embora na citação abaixo esteja especificamente relaciona<strong>do</strong> aos movimentos de<br />
vanguarda, cabe perfeitamente uma adequação à contracultura, tanto pelo momento<br />
histórico, quanto pelo des<strong>do</strong>bramento encadea<strong>do</strong> pela questão.<br />
A falência <strong>do</strong> ideário de maio de 68, a mercantilização da contra-cultura norte-americana, a<br />
<strong>do</strong>mesticação museológica <strong>do</strong>s projetos construtivistas nas artes foram alguns <strong>do</strong>s elementos<br />
que contribuíram para o esvaziamento desse caráter [revolucionário] no experimentalismo<br />
contemporâneo. (...) Experimentar, nesse âmbito, é a norma e a expectativa e não mais o<br />
desvio e o estranhamento. (MENEZES, 1992: 15).<br />
Não se desconsideran<strong>do</strong> a contracultura <strong>do</strong>s anos sessenta, mas amplian<strong>do</strong> a<br />
abrangência <strong>do</strong> termo contracultura, recorremos a Teixeira Coelho que afirma que os<br />
movimentos contraculturais não são uma exclusividade <strong>do</strong> século XX. Para exemplificá-lo,<br />
o autor remete-se a mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong> século XVI e resgata o maneirismo, que se desvencilhara<br />
das amarras religiosas, tanto no aspecto da iconografia como da ideografia, e humanizou-se<br />
com as noções de ilusão, <strong>do</strong> maquinismo, <strong>do</strong> desvio, <strong>do</strong> insólito e <strong>do</strong> extravagante. Ao<br />
maneirismo, Teixeira Coelho atribui o título de “se não o primeiro, pelo menos o<br />
[movimento contracultural] mais incisivo e <strong>do</strong>cumenta<strong>do</strong> da história anterior” (TEIXEIRA<br />
COELHO, 1997: 99). Ao se vincular o conceito de contracultura a diversas manifestações<br />
independentemente da situação temporal e da posição geográfica, atingimos uma superação<br />
da idéia de que contracultura refere-se exclusivamente ao movimento que se voltou em<br />
direção a experiências comunitárias, drogas psicodélicas, misticismo oriental, psicanálise<br />
profunda e teorias sociais anarquistas nos anos 60 e 70. O termo contracultura passa a ser<br />
usa<strong>do</strong> para designar “diversos grupos e subculturas que não se integram ou que se opõem<br />
ao mainstream social, econômico e cultural” (SHUKER, 1999: 79).<br />
Contracultura, então, passa a assumir o papel de dêixis, uma palavra camaleônica,<br />
que assume a forma <strong>do</strong> contexto ao qual se refere. Por sua vez, os itens dêiticos clássicos<br />
46