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Delírio do Verbo: O Jornalismo Gonzo e a realidade ... - Flanador

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Paul Virilio, na era <strong>do</strong> ciberespaço, “a informação só tem valor pela rapidez de sua difusão,<br />

ou melhor, a velocidade é a própria informação!” (apud MORETZSOHN, 2002: 125).<br />

Jürgen Wilke, que analisou a evolução histórica <strong>do</strong>s jornais com o auxílio da análise de<br />

conteú<strong>do</strong>, fala em mudança na consciência temporal:<br />

A história demonstra uma crescente sincronização entre a <strong>realidade</strong> editorial e a <strong>realidade</strong><br />

<strong>do</strong> acontecimento, o que resulta numa “atualização” da consciência temporal e, juntamente<br />

com uma periodicidade cada vez mais intensa e com uma crescente acumulação, na<br />

“agitação” ou não “fragmentação temporal” que se observam com freqüência nos dias de<br />

hoje (apud KUNCZIK, 2001: 220).<br />

Em sua pesquisa, Wilke constatou que “antes, os leitores <strong>do</strong> jornal se informavam<br />

menos, mas por outro la<strong>do</strong> se informavam de maneira mais contínua sobre cada evento.<br />

Depois, passou-se a informar mais, mas em geral a informação tornou-se menos contínua”<br />

(idem: 222). Esse aspecto de notícia como apenas fragmento, e não um entremear histórico,<br />

advém <strong>do</strong> desprezo da idéia de que “os fatos, embora separa<strong>do</strong>s no tempo cronológico,<br />

fazem parte de uma única cadeia, uma única ocorrência histórica da qual cada ‘notícia’ é<br />

apenas uma manifestação, como um fotograma de um filme de longa metragem” (SERVA,<br />

2001: 44). Em suma, para Leão Serva, a natureza acelerada <strong>do</strong> jornalismo gerou a<br />

consumação de um fato: “as notícias não deixam ver a história” (idem: 47).<br />

Receptor de mensagens aleatórias, o indivíduo percebe o mun<strong>do</strong> e a História como um<br />

espetáculo entrópico, fragmentário, sem totalidade e irracional, enquanto à sua volta a<br />

<strong>realidade</strong> se dissolve numa colagem de signos e simulacros cujos referentes são remotos ou<br />

se perderam. Nesse cosmos tendente ao caos, sem princípio unifica<strong>do</strong>r seja ele cristão ou<br />

newtoniano, o sujeito é quan<strong>do</strong> muito um átomo estatístico surfan<strong>do</strong> nas ondas <strong>do</strong> provável<br />

e <strong>do</strong> incongruente (Jair Ferreira <strong>do</strong>s Santos in OLIVEIRA, 1995: 60).<br />

Desvincular os acontecimentos jornalísticos de uma perspectiva histórica, tratan<strong>do</strong><br />

a notícia como um ser pleno e o fato como uma circunstância atomizada, acaba por<br />

distorcer a percepção <strong>do</strong> receptor. Assim, ao “apresentar retratos <strong>do</strong>s fatos de forma isolada<br />

e descontextualizada, os meios informativos simultaneamente negam ao seu consumi<strong>do</strong>r<br />

uma apreensão mais completa da notícia e produzem uma percepção alterada <strong>do</strong>s<br />

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