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Delírio do Verbo: O Jornalismo Gonzo e a realidade ... - Flanador

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adequar, mais propriamente, ao universo daquele que as (re)constrói, daquele que está<br />

sempre (re)len<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong>” (RESENDE, 2002: 111). Com isso, o repórter viabiliza o<br />

rompimento <strong>do</strong> acor<strong>do</strong> factual que costumeiramente rege os processos de produção e<br />

recepção <strong>do</strong> jornalismo, guian<strong>do</strong> o leitor a um “outro mun<strong>do</strong>”, que beira a (e às vezes<br />

mergulha na) ficção, um mun<strong>do</strong> onde toda verdade se faz crível. O resulta<strong>do</strong> disto é a<br />

criação de “um texto que, por sinalizar fato e/ou ficção, peça um leitor que divague,<br />

fazen<strong>do</strong> com que a significação se dê em níveis outros, que não somente aqueles que se<br />

referenciam no real de um ou outro discurso, mas, também, no real desse que é o seu<br />

segun<strong>do</strong> produtor” (idem: 102), crian<strong>do</strong> a figura <strong>do</strong> leitor-investiga<strong>do</strong>r, ciente da não mais<br />

existência <strong>do</strong> pacto primeiro <strong>do</strong> jornalismo que pressupunha a verdade em suas afirmações.<br />

Um leitor que caminhará sobre a “saudável” (no senti<strong>do</strong> barthesiano 30 ) dúvida: será o<br />

jornalista o mensageiro da verdade factual ou da “verdade” ficcional? O caráter de<br />

“verdade” atribuí<strong>do</strong> à ficção não vem, contu<strong>do</strong>, de sua relação com o real. Ele é decorrente<br />

da consciência por parte <strong>do</strong> jornalista/literato acerca da condição irreal imanente à<br />

linguagem e, portanto, a to<strong>do</strong> ato nela basea<strong>do</strong>:<br />

A literatura mais “verdadeira” é aquela que se sabe a mais irreal, na medida em que ela se<br />

sabe essencialmente linguagem, é aquela procura de um esta<strong>do</strong> intermediário entre as coisas<br />

e as palavras, é aquela tensão de uma consciência que é ao mesmo tempo levada e limitada<br />

pelas palavras, que dispõe através delas de um poder ao mesmo tempo absoluto e<br />

improvável (BARTHES, 1982: 79).<br />

O fato ficcionaliza<strong>do</strong>, o jornalismo desapega<strong>do</strong> <strong>do</strong>s ideais de objetividade e<br />

imparcialidade, o factual permea<strong>do</strong> por elementos literários são formas de discurso nas<br />

quais “se acredita sem se acreditar” (BARTHES, 1977: 362) , pois o leitor está em trânsito<br />

entre <strong>do</strong>is universos, cada um com leis diferentes para reger a palavra. “É ilusão e não<br />

simulacro, pois não finge ser o que não é” (MAN, 1996: 119). O discurso, posto nestas<br />

condições, torna-se mais verdadeiro pois não almeja à dissimulação presente no jornalismo.<br />

“A ficcionalização é um jogo de linguagem, neste aspecto em que desrealiza o real e exige<br />

30 O signo “saudável”, para Barthes, é aquele que chama a atenção para a sua própria arbitrariedade – aquele<br />

que não tenta fazer-se passar por “natural”, mas que, no momento mesmo de transmitir um significa<strong>do</strong>,<br />

comunica também alguma coisa de sua própria condição relativa e artificial.<br />

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