Delírio do Verbo: O Jornalismo Gonzo e a realidade ... - Flanador
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duas dessas perguntas – “como” e “porquê” – dão imensa margem à “contaminação” pela<br />
subjetividade <strong>do</strong> jornalista, pois comportam em si dúvidas que não podem ser esclarecidas<br />
de mo<strong>do</strong> estritamente objetivo. Assim, a objetividade configura não um méto<strong>do</strong> de busca à<br />
verdade, mas uma dissimulação <strong>do</strong> fato de que é impossível alcançar a verdade<br />
propriamente dita. Para Rogério Koff:<br />
A “objetividade” jornalística é um mecanismo ideológico proposto pelos meios de<br />
comunicação de massa, que pretendem mascarar a evidência de que a suposta verdade <strong>do</strong>s<br />
fatos é uma construção social. Desta forma, os meios de comunicação de massa não<br />
reproduzem a verdade objetiva ou pura sobre os fatos, mas versões intermediadas pela<br />
construção imaginária <strong>do</strong>s sujeitos envolvi<strong>do</strong>s no processo comunicativo (apud<br />
MORETZSOHN, 2002: 80).<br />
A inserção da objetividade como atributo essencial <strong>do</strong> jornalismo ocorreu com o<br />
surgimento <strong>do</strong> “jornalismo de precisão”, proposto por P. Meyer, o qual determina que, ao<br />
investigarem os temas de atualidade, “os jornalistas devem usar os méto<strong>do</strong>s científicos de<br />
pesquisa social para poder prestar declarações comprovadas sobre os temas sociais, ou seja,<br />
para poder relatá-los objetivamente” (KUNCZIK, 2001: 103). No entanto, sempre que se<br />
fala em objetividade, tem-se em mente apenas o texto, ignoran<strong>do</strong>-se “não apenas o processo<br />
de seleção das informações ali contidas mas o fato de que um jornal é um conjunto de<br />
elementos verbais e não-verbais que interagem na produção de senti<strong>do</strong>” (MORETZSOHN,<br />
2002: 80).<br />
O jornalista é considera<strong>do</strong> um agente neutralmente distancia<strong>do</strong> para poder<br />
transmitir a informação com objetividade e ética profissional. E, para efetuar essa<br />
transmissão nesses termos, ele utiliza-se de alguns artifícios. O principal deles é a estratégia<br />
da referencialidade, por meio <strong>do</strong> qual o jogo de eu (jornalista) a tu (receptor) é elimina<strong>do</strong><br />
“em prol de um efeito de real impoluto” (GOMES, 2000: 66). No jornalismo, os fatos são<br />
conta<strong>do</strong>s por meio <strong>do</strong> verbo na terceira pessoa. “Tu<strong>do</strong> se passa como se não houvesse<br />
nenhuma colocação de valores ou hierarquização” (idem: ibid). Na Irmandade Raoul Duke,<br />
por outro la<strong>do</strong>, a referencialidade é colocada de la<strong>do</strong> e o pronome eu é figura recorrente<br />
para desmascarar o processo de produção <strong>do</strong> relato, o que pode ser percebi<strong>do</strong> na matéria Eu<br />
só queria falar com a Malu:<br />
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