Delírio do Verbo: O Jornalismo Gonzo e a realidade ... - Flanador
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Para Freud, portanto, a ironia é a figura de retórica que supõe uma certa posição <strong>do</strong> sujeito<br />
diante da verdade, forma invertida.<br />
A autora Beth Brait reforça o caráter de ruptura engendra<strong>do</strong> na própria concepção<br />
de ironia e na utilização desta pelas escolas literárias para contestar os estilos precedentes.<br />
Segun<strong>do</strong> Brait, a ironia – em seus diversos mecanismos - é a estratégia aplicada a fim de<br />
representar e revelar as formas esgotadas (BRAIT, 1996: 57).<br />
A dupla de autores, Rosenfeld & Guinsburg, tece uma análise de como a ironia se<br />
desenvolve e é aplicada no contexto específico da escola romântica européia, a qual, dentro<br />
desta análise, possui traços análogos aos observa<strong>do</strong>s na esfera da Irmandade Raoul Duke.<br />
Segun<strong>do</strong> eles, Rosenfeld & Guinsburg, a ironia é brandida por um homem marginaliza<strong>do</strong> e<br />
converte-se a priori para ferir os valores oficiais <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> burguês. “Trata-se, para o<br />
romantismo, de abalar os padrões filisteus e toda esta <strong>realidade</strong> aparentemente factícia em<br />
que o burguês se acha em casa. Mostrar que tu<strong>do</strong> isso é falso e ilusório constituiu-se numa<br />
importante meta de sua ironia" (ROSENFELD & GUINSBURG, 1978: 286). Mais que<br />
isso, este “homem marginaliza<strong>do</strong>” é situa<strong>do</strong> num contexto urbano, exposto a uma<br />
infinidade de estímulos, o que faz com que se torne insensível a to<strong>do</strong>s eles. E é esta<br />
situação de “tédio” que o literato busca transcender pelo uso da palavra.<br />
Uma forma de pensar muito sutil e específica que, no seu caráter oblíquo e cindi<strong>do</strong>, reflete<br />
as complexas circunvoluções mentais de gente extremamente crítica, sensível e refinada,<br />
individualista e anárquica, afeita ao trato diuturno <strong>do</strong> espírito e das letras, um gênero de<br />
pessoa que na Alemanha é chamada de Asfaltliterat, 'literato de asfalto'. São criaturas<br />
essencialmente urbanas, que vivem como plantas algo emurchecidas e lânguidas na<br />
atmosfera assaz sufocante da cidade grande. Em seu meio sempre surge aquele tedium vitae,<br />
o enjôo de viver tão característico <strong>do</strong> homem blasé, uma criatura que já experimentou de<br />
tu<strong>do</strong> e não mais sente prazer em nada, que precisamente por isso procura a satisfação no<br />
mais rústico e elementar, porque isso poderia representar uma fonte de restauração de seus<br />
senti<strong>do</strong>s estiola<strong>do</strong>s, um banho de juventude por assim dizer. (ROSENFELD &<br />
GUINSBURG, 1978: 282-283)<br />
Em sua argumentação, a autora Beth Brait cita um artigo publica<strong>do</strong> em 1941, na<br />
Révue de Métaphysique et de Merale (pp. 163-201), intitula<strong>do</strong> Le mécanisme de l'ironie<br />
dans sés rapports avec la dialectique, no qual René Schaerer não apenas compara a ironia a<br />
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